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segunda-feira, janeiro 17, 2022

SOBRE UM HOMEM ABENÇOADO

 


Hoje, 17 de janeiro de 2022, o inesquecível amigo Euro Tourinho, se vivo, faria 100 anos. É, por um lado, uma data alegre por trazer a recordação de uma pessoa que foi sábia, generosa, querida e, acima de tudo, humana. Por outro lado, traz um sabor amargo de sua falta, de não poder dar-lhe um longo abraço e passar alguns bons momentos ao seu lado. É o meu sentimento. Não, certamente, o dele que morreu suavemente, como morrem os passarinhos, e, com uma certeza, que me deixava angustiado, de que já havia cumprido sua missão na terra, que muitos dos seus haviam ido e que era chegada a hora dele ir também. Por algum tempo até tentei dizer-lhe que isto não era verdade, que ele ainda tinha muito para fazer, que havia todo um futuro ainda pela frente. Não era o sentimento dele. Em parte por ter perdido sua esposa, Dona Maria Kang, que foi seu complemento indispensável pelo tempo afora, em parte por ter sentido a partida de pessoas queridas muito próximas e quase todos de sua convivência e geração, mas, penso que ainda mais, porque, de repente, sua mobilidade, agilidade e força ficaram em algum canto no caminho e, com dificuldades nas pernas, não se mostrava o mesmo homem ativo, incansável e sempre disposto a participar de alguma solenidade, festa ou encontro. Talvez também o fato de não ter mais as obrigações com a redação do Alto Madeira o tenham afetado, porém, nos últimos tempos, antes de morrer, se tornava claro que se preparava para seu fim e suas atividades visavam apenas diminuir os problemas do depois para os seus. Uma das últimas conversas que tivemos, e gostava muito de conversar com ele sobre quase tudo, ele me dizia que seria homenageado pela UNIR com o título de Doutor Honoris Causa, o que não aconteceu por seu falecimento, e leu um trecho do discurso que preparava. Como sempre, uma pessoa humilde e cônscio da pequenez humana, começava o discurso diminuindo os seus méritos. Na ocasião pedi que não o fizesse. Exaltei o fato inconteste de ter sido o redator-chefe de fato do Alto Madeira por mais de cinco décadas e, mais do que isto, ser, depois do Marechal Rondon, a pessoa mais conhecida de Rondônia, porém, mais ainda por ter participado como ninguém da história de Porto Velho e do Território e depois Estado. Ele ficou meio comovido, alegre e me deu um abraço carinhoso. Não chegou a receber a homenagem devida que seria o título de Honoris Causa, mas, a meu ver, cumpriu sua missão e, muitas vezes, durante a loucura que foi, e continua sendo, esta pandemia do Covid-19 fico pensando que olhar teria para um tempo tão sem noção. E, apesar do sentimento imenso, irreparável de sua falta, fico pensando que foi um homem abençoado, que até morrer morreu no momento certo. O que, de forma alguma, não preenche a imensa lacuna que deixou na nossa cidade e nas nossas vidas, porém, as sementes que deixou continuam a mostrar que a nossa samaúma continua a manter a floresta através dos tempos.  

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