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segunda-feira, setembro 09, 2024

Um Brinde em Nome do Santo



Neste agosto, por uma série de razões, inclusive uma palestra que tive de ministrar sobre a questão da estabilidade e do desenvolvimento no Brasil, acabei deixando para lá a homenagem devida ao nosso santo Arnaldo de Soissons (1040–1087), também conhecido como Arnold ou Arnulf de Oudenburg. Ele é um santo católico belga, padroeiro dos coletores de lúpulo e dos cervejeiros. Nascido na vila de Tiegem, na região de Flanders, Santo Arnaldo foi um soldado antes de se estabelecer na abadia de São Medardo, em Soissons, na França.Nos seus três primeiros anos de vida religiosa viveu como eremita e depois assumiu o posto de abade no monastério. Segundo a sua hagiografia, o santo não queria o título e tentou fugir, mas um lobo o forçou a voltar. Cerca de 1080 foi nomeado bispo de Soissons.  Um padre, anos depois, tentou tomar seu lugar como bispo, o que interpretou como um sinal e renunciou o episcopado, retirando-se para fundar o mosteiro de São Pedro, em Oudenburg, onde começou a fabricar cerveja- uma bebida tida como imprescindível, com a epidemia da Peste Negra na Europa e sem abundância de água própria para consumo. Santo Arnoldo promoveu o consumo de cerveja entre os camponeses da região, como um “dom da saúde” que a bebida evocava. Efetivamente, naqueles tempos, seus esforços fizeram muito pela população local ao ensinar a fazer cerveja e a bebê-la ao invés de água. Como não existia saneamento básico, somado a que na produção de cerveja se fervia o mosto acima da temperatura de pasteurização (não havia pasteurização ainda), era realmente mais saudável beber cerveja que água (esta é uma opinião bastante moderna e, hoje, bastante difundida) .  Seu trabalho salvou muitas vidas e sua fama em relação à cerveja se espalhou. Muitos milagres foram atribuídos a ele. Por exemplo, o teto da cervejaria da abadia desabou, comprometendo o abastecimento. Santo Arnoldo, então, pediu a Deus para multiplicar as sobras   da bebida e suas preces foram atendidas, para a alegria dos monges e da comunidade. Também introduziu novas técnicas na fabricação da cerveja. Montando um cesto para formação de colmeias, percebeu que os cones de palha serviriam como filtros. Daí que em muitas pinturas, ou representações suas, apareça retratado segurando cestos com abelhas ou segurando uma espécie de pá usada para macerar o malte. Há outros santos que são tidos também como padroeiros da cerveja, como São Columbano, São Patrício,  Santo Arnulfo de Metz, São Venceslau e Santa Brígida de Kildare e Hildegarda de Bingen. Nada estranho porque a fabricação de cerveja é imemorial, segundo consta foram os sumérios, 8 mil anos atrás, que iniciaram sua produção, mas o nome cerveja vem mesmo dos gregos e romanos, que aprenderam a arte da fabricação com os egípcios. Vem mesmo é de Ceres, a deusa da agricultura, dos grãos. Ou seja, do pão e da cerveja. Ceres visia, termo que deu origem à palavra cerveja, que significa “Aos olhos de Ceres”. Santo Arnaldo morreu jovem, com 47 anos, e foi canonizado no ano de 1121 depois de seus milagres serem reconhecidos pela Santa Sé. A festa litúrgica é comemorada no dia 14 de agosto. Um brinde a Santo Arnaldo de Soissons, pois!

Uma Tarde no Sítio do Yamaguchi


Uma das boas coisas da vida, sem dúvida, é comer. E comer bem é um dos prazeres mais requintados que se pode ter. E, como não poderia deixar de ser, são os japoneses, com suas tradições e criatividade que nos deram o  sashimi, que significa "corpo furado", onde "
刺身 = sashimi = 刺し = sashi ("perfurado", "preso") e  = mi ("corpo", "carne"), que, segundo alguns, deriva da prática de fincar o rabo e a barbatana do peixe às fatias de modo a identificá-lo. Deve-se ao Miyoshi à inclusão do sashimi e do sushi no nosso estado.  Confesso que pouco sei, ao contrário de meu filho Igor Persivo, que já até trabalhou fazendo comida japonesa, como fazer. Sei, e gosto muito, é de comer. E passei, pelo menos, três décadas comendo no Restaurante Oriente, o primeiro e por muito tempo o mais importante da culinária japonesa em Porto Velho, mas só no sábado (27 de julho) foi que conheci quem criou o restaurante, que tanto gostava. porquê fui a convite do José Valdir Pereira, escritor, um dos fundadores da UNIR, no sitio do Yamaguchi, com as companhias de Lito Casara & Tunai Melo. Foi uma tarde muito especial. Em primeiro lugar porque vivemos, em universos paralelos na mesma época. Yamaguchi foi peça importante da administração municipal de Chiquilito Erse em tempos passados, teve uma participação significativa no crescimento de Porto Velho abrindo novas ruas e resolvendo problemas urbanos e, por uma questão de círculos de amizade, pouco nos encontramos no passado. Então fizemos uma espécie de reconhecimento, recobramos as memórias de quando Porto Velho somente ia até a rua Joaquim Nabuco, talvez até o mercado do Km1. Histórias & estórias (de bons pescadores) não faltaram, como o acolhimento da família aos amigos foi fantástico, com aquele zelo e amor que os orientais possuem pelos amigos. O Márcio Yamaguchi, um dos filhos que continuam no ramo de restaurantes, não nos deixou um minuto sem atenção até arranjando vinho, quando o estoque acabou. E o violão de José Valdir, o bandolim mágico de Lito Casara e a palhinha de Tunai Melo cantando fizeram a tarde maravilhosa. Yamaguchi mostrou o carinho com que trata o seu sitio, que fica na junção de dois rios, não lembro agora mais os nomes, sei que um é o Candeias e, discretamente, nos encantou com sua elegância e recepção. Nem vou falar mais da qualidade da comida que nos ofertou porque o comentário é dispensável, mas é preciso dizer que se trata de um grande empreendedor, pois no difícil ambiente de negócios do Brasil chegou a ter 200 empregados. Sei como isto não é fácil ainda mais num ramo que exige atenção constante. Para viver melhor diminuiu, ou melhor, saiu dos negócios para voltar “para o melhor lugar”- como diz a canção de José Valdir-em homenagem à Porto Velho. Os filhos, Márcio, aqui, e uma filha, lá em Saco Grande, Florianópolis, porém continuam a tradição de bem servir comida de qualidade. Esta é, como escritor, a minha forma de agradecer todo o carinho que recebemos e o prazer de termos compartilhado bons momentos. Meu preito a Yamaguchi e família, que deve ter muito orgulho de seu patriarca, uma grande personalidade de nosso Estado. 

Inflação em ascensão tende a aumentar a pressão política


Embora exista toda uma estratégia operacional que se baseia em tentar criar otimismo sobre a conjuntura econômica, que inclui uma pasteurização da grande imprensa sobre os dados negativos, no entanto a grande realidade é que o Brasil vive tempos muito difíceis e não há como esconder. O governo federal, nos tempos atuais, optou por uma linha na qual não contempla os interesses nem das atividades produtivas nem dos trabalhadores. É emblemático desta opção o fato de que não somente, de diversas formas, aumentou os impostos, por leis ou decretos ou ainda pelo corte de subsídios, como não tem melhorado a renda dos salários, exceto para as poucas camadas do serviço público que lhes dá sustentação, como o legislativo, a justiça e o setor de arrecadação. A recente, e longa, greve dos técnicos e professores de ensino superior, que, no seu todo, ainda não acabou, é bem representativa disto, pois impuseram, com alguns benefícios cosméticos, 0% de aumento, no presente ano, alegando, o que não tem substância, 9% dado no ano passado, sem considerar a inflação do ano nem as perdas de anos passados, longos anos, aliás, em que os servidores públicos não tem recebido nenhum aumento. Em certos setores da educação a situação de professores, em especial os novos, chega a ser dramática. Mal conseguem prover a própria subsistência enquanto veem os preços de seus livros, de cursos que desejam fazer e de coisas básicas, como aluguel e plano de saúde, darem saltos enquanto seus salários minguam com a inflação. Lula, que não tem problema nenhum de sobrevivência e pode se dar ao luxo de viajar pelo mundo, fala, beatificamente, em compreensão, em olhar para o que foi dado como se fosse possível pagar as contas com promessas sobre a possibilidade de serem compensados no futuro. O problema presente é que até mesmo a inflação oficial, que tende a subir, está subestimada. Não somente porque o próprio órgão que realiza o seu levantamento mudou a forma de aferir os preços como também existe, cada vez mais, presente o fenômeno da reduflação, uma tática dos fabricantes de reduzir o conteúdo dos produtos para manter os preços, diminuindo o poder de compra dos consumidores,  segundo um estudo recente do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) em cerca de 4%. É um fenômeno que acontece, e as evidências são flagrantes, nos alimentos e produtos de higiene atingindo de forma drástica, principalmente as famílias de menor renda. Na prática se paga o mesmo valor para consumir menos. E os preços das verduras e frutas também dispararam. Só os que não vão aos supermercados e mercados não conseguem ver. Não há solução fácil à vista quando o governo não controla suas contas e o chefe da nação ainda ajuda a espiral inflacionária falando contra a política monetária e faz o dólar subir mais e mais. Os erros de política pública estão se fazendo sentir fortemente no poder aquisitivo das pessoas. E, com o endividamento, que já é alto, a pressão política tende a subir nos próximos meses, inclusive por conta do período eleitoral.