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quarta-feira, outubro 22, 2008

AS CRISES SÃO NORMAIS


NADA DE NOVO NO HORIZONTE

Quem entende de economia sabe que as crises são acontecimentos normais e esperados, embora não desejados. Não é de hoje que se estudam os ciclos econômicos, embora de uns tempos para cá, alguns entendam se tratar de um assunto superado. Mas, dizer ciclo já pressupõe profundos distúrbios na atividade empresarial. E, outra decorrência deles, costuma ser que, dependendo da predominância de pensamento, a solução que se propõe seja a de retornar as práticas antigas, ou, que os ciclos ditos “liberais” sejam seguidos por ciclos “estatizantes”, que dão lugar a novos ciclos “liberais” e assim por diante.
Não se pode negar que seja uma realidade histórica a de que a cada ciclo, dependendo de seu tempo, aumente ou diminua o grau de regulamentação e desregulamentação que é sempre desencadeado por crises econômicas. Basta lembrar que a política do "New Deal", do presidente Franklin Roosevelt e de John Maynard Keynes, foi, efetivamente, uma fase de maior intervenção do estado na economia em razão do desemprego e dos impactos da Grande Depressão. Keynes, mesmo raciocinando na intervenção na economia como um remédio de curto prazo, prescreveu volumosos gastos governamentais para recuperar o consumo e se sentiu bastante frustrado por Roosevelt adotar suas soluções, face aos problemas políticos, de forma bastante insatisfatória. Mesmo assim a economia recuperou-se e, até hoje, não se sabe bem o quanto se deve à intervenção ou à eclosão da II Guerra Mundial que importou no uso de toda capacidade instalada norte-americana e do uso das mulheres como força de trabalho.
Keynes, com o sucesso de suas teorias, dominou o cenário econômico mundial e seu pensamento foi incorporado e distorcido. A intervenção na economia que deveria ser transitória, de curto prazo, para seu desgosto se tornou quase um dogma com seus seguidores utilizando a metodologia das contas nacionais para gerir as crises e criar a filosofia do “estado desenvolvimentista” que é uma distorção do seu pensamento, ou seja, o uso do estado para criar o desenvolvimento nacional. Até a década de 70, o que pareceu ser produto das políticas keynesianas, foi absoluto nas políticas públicas, quase uma religião a ponto de se crer que as crises fossem coisas do passado graças ao monitoramento econômico por meio de modelos matemáticos. Somente com a crise do petróleo e o endividamento dos países, que implicou na retomada de um novo ciclo liberal, ou seja, criou-se o que se costuma chamar de “neoliberalismo” houve uma regressão da intervenção na economia e isto, no fundo, derivou da necessidade de uma alternativa para o esgotamento da capacidade dos países de investir.
Este novo ciclo levou ao excesso contrário com uma desregulamentação dos mercados financeiros nos anos 80 e a criação de inovações financeiras, que tornaram mais fácil captar empréstimos de somas cada vez maiores respaldadas em ativos recebíveis que estimularam o crescimento do mercado de crédito de forma exponencial. O mesmo aconteceu com a especulação que foi desvinculando os meios financeiros (derivativos e títulos similares) da economia real. É o fim de um ciclo.
Os ciclos mostram como a economia está longe de ser uma ciência exata e, como depende dos homens e de fatores que ainda não se dominam e, talvez, nunca se dominarão. Não é diferente, aliás, de qualquer outro tipo científico de conhecimento humano, daí que as formulas, as equações e conhecimentos não escapam do reino da incerteza. É claro que, agora, vozes bradam por regulamentações e criticam o excesso de “liberdade econômica”, no entanto, uma coisa é fazer a autopsia do morto; outra é evitar a morte do paciente. O capitalismo está longe do fim. O que se verifica apenas é o que sempre existiu no reino da ciência da produção humana: as crises somente se explicam depois que o estrago foi feito.

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