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segunda-feira, outubro 27, 2008

UM TITÃ DOS NEGÓCIOS

A Marca de Farquhar

Sem dúvida que Percival Farquhar é uma figura controvertida. O que não se pode negar, no entanto é que foi um visionário com o desejo de estabelecer, o que até hoje não foi feito, que é implantar um sistema ferroviário que abrangesse toda a América Latina. Inegável também que, para um filho de quacres que se formou em engenharia pela Universidade de Yale, naquela época ter um grande número de ferrovias no Brasil, de estradas de ferro na Rússia e minas de carvão na Europa Central, além de engenhos de açúcar em Cuba, não era uma tarefa fácil. No Brasil historiadores apontam que tornou-se o maior investidor privado do Brasil, entre 1905 e 1918, e que seu império se rivalizou com o do Conde Francisco Matarazzo e com o de Irineu Evangelista de Sousa, o Visconde de Mauá. E, sem sua ajuda financeira, Assis Chateaubriand não teria feito seu império de comunicações.
Uma acusação que lhe é feita é a de que suas empresas viviam de favores públicos, como se não fosse o modo de agir da época. Em razão dos governos serem muito intervencionistas se tornava impossível fazer grandes projetos sem sua proteção. O que não se diz é que graças a sua iniciativa surgiram inúmeros serviços públicos nas áreas de gás e iluminação, telefonia, hotelaria, madeireiras e inclusive a Vale do Rio Doce, bem como portos e ferrovias. Daí não ser de espantar que digam dele que "teve mais fome de terras do que qualquer personagem da história da América Latina desde o tempo dos incas" (palavras de seu biográfo Charles Gauld). Para quem, como ele, levantava altas somas para financiar seus projetos (dizia-se capaz de financiar qualquer coisa) é evidente que também foi muito hábil na autopromoção de sua imagem, sempre se esforçando para aparecer na imprensa como sendo um exemplo de capitalista norte-americano altamente bem sucedido, um ícone do empreendedorismo, o que não podia deixar de lhe render alguns admiradores na mesma proporção que despertava inveja e até mesmo ódio. Um estrangeiro de sucesso em países alheios, e com idéias próprias, não era para muitos o melhor dos visitantes, principalmente, com negócios rentáveis. E, como Charles A. Gauld, reconhece "O gênio de Farquhar estaria mais do lado da visão e da capacidade de levantar dinheiro para expandí-las do que da administração eficiente e da economia de custos nas suas 38 empresas."
Sua chegada ao Brasil se deve ao distrato com o Bolivian Syndicate e ao compromisso assumido pelo governo brasileiro de construir a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, considerado “um empreendimento obscuro e assombroso, anárquico e absurdo”. Muitos alegam as mortes e os danos ambientais como seu legado, porém, julgam o passado com os olhos do presente. Percival Farquhar é uma figura polêmica, mas, sua grandeza se reflete em que sem seu empreendedorismo Porto Velho não existiria e, sem dúvida, o Brasil de hoje demoraria muito mais a ter os contornos modernos que já possui. Se foi um pirata, como diziam, foi um pirata com visão construtiva. Sua marca de empreendedor permanece muito além de sua vida.

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