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quinta-feira, março 26, 2009

A ÉTICA E AS EMPRESAS



Entre os especialistas em desenvolvimento há o consenso de que o estado é um mau gestor e seu aumento gera burocracia, corrupção e impede o estimulo a um ambiente adequado ao empreendedorismo, ou seja, quanto mais o estado intervém na sociedade maiores os obstáculos para criar uma iniciativa privada saudável e mais corrupção. No entanto, como agora vemos na avalanche de casos que provém do “Mensalão” passa por espionagens que envolvem o empresário Daniel Dantas e desemboca na prisão de dirigentes da Camargo Corrêa quando se trata de corrupção não é muito fácil isolar o público do privado. E nas obras, no lixo, no transporte coletivo e nos contratos de prestação de serviços há toda uma história a ser revelada e escrita.
É impossível não constatar que no meio dos escândalos públicos há sempre as impressões digitais de empresários e/ou de empresas privadas. E, por mais que se criem mecanismos para reforçar o comportamento social e ético das empresas, não se pode esconder que, nos escândalos do cotidiano, na maioria das vezes, estão envolvidas empresas de todos os tipos. Na busca do lucro fácil se abandonam às atividades de desenvolver melhorias em inovação e aumento da produtividade em troca de propinas e de crescimento rápido sempre com os riscos muito elevados que tais práticas acarretam, principalmente, com a atuação cada vez mais forte do Ministério Público e o fortalecimento das agências de investigação.
No Brasil, onde os mecanismos de acompanhamento e punição de tais práticas ainda são frouxos, há empresas, como ficou patente com as de Marcos Valério, que crescem com uma rapidez impressionante por ligações políticas. O problema parece ser que, quando se alcança um determinado tamanho, é impossível não ganhar visibilidade e não chamar a atenção para a forma como isto acontece, mas, o fato real é que, na guerra por espaços comerciais, na qual, em geral, o estado possui uma participação relevante seja como comprador, seja como concessionário ou meramente como facilitador de certas questões, o favor de agentes políticos, ou funcionários públicos, pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso, daí a facilidade para que se estabeleça algum tipo de relação que acaba sendo espúria. Segundo a Transparência Brasil um dado típico de tal simbiose é o fato de que, de todas as empresas que participam de licitações no país, 62% receberam pedidos de propinas ou outros tipos de pagamentos para conquistar contratos. Ou seja, embora a corrupção pública seja execrada não é possível dissociar a pública da privada.
O que acontece, na grande maioria das vezes, é que a punição se restringe aos gestores de recursos públicos que são, imediatamente, execrados sem que se dê maior atenção aos corruptores. No entanto, como comprovam episódios em que agentes públicos foram flagrados pedindo propinas que geraram CPIs, não há corrupto sem corruptor. Por isto mesmo na democracia é indispensável criar mecanismos e controles éticos na gestão do próprio negócio até para evitar as tentações. Afinal se, no mundo dos negócios, santos não prosperam, é muito melhor prosperar devagar e solidamente do que ultrapassar limites que põem em risco o próprio nome, o patrimônio e até a família que, muitas vezes, paga inocentemente os pecados empresariais.

quinta-feira, março 12, 2009

NÃO É TÃO SIMPLES



Afogados na marolinha

Quando um país que continua a ser o centro do mundo, como é o caso dos Estados Unidos, é abalado por uma grande crise com o grau de interdependência que existe na economia seria impossível o Brasil não ser afetado. Mas, no primeiro momento, qual foi a atitude de nossos dirigentes? Em 15 de setembro do ano passado, quando quebrava o grande e tradicional banco americano Lehman Brothers, o ministro Guido Mantega da Fazenda trombeteava com empáfia: "O problema é lá, não aqui". Dois dias depois era o próprio presidente Lula da Silva que fanfarroneava: "Ela (a crise) pode atingir, mas atingirá o Brasil menos do que em qualquer outro momento. Eu diria muito menor (do que as anteriores), quase imperceptível". E, em 5 de outubro, o tom não era menos otimista "Ela é lá (EUA) um tsunami, e aqui vai chegar uma marolinha, que não vai dar nem para esquiar".
Claro que não era bem assim. Não é bem assim. A posição boa do Brasil era (é) decorrente de seus saldos da balança comercial e do aporte de recursos externos, mas, o Brasil possui uma dívida grande, embora tenha trocado a externa pela interna. A boa economia e a boa matemática ensinam que não é possível se estar confortável quando se deve, quando se tem problemas na praça e quando esta apresenta momentos de tensão que abalam economias como da Alemanha e da Suíça. No mínimo, de responsáveis pela condução econômica do país, é de se esperar que se tomem medidas preventivas e se meçam as palavras que são utilizadas. A retórica de que a economia brasileira não seria afetada era vazia até porque já se sabia que estava sendo afetada pela queda das exportações, pela diminuição do crédito externo e pela fuga de capitais das bolsas. Até que se tomaram algumas medidas, porém, insistir no discurso de que os bancos oficiais sustentariam o crédito, manter os níveis da taxa de juros e não acelerar medidas concretas para que o mercado sentisse que projetos, como os de infra-estrutura continuariam em ritmo acelerado, foi um erro de avaliação e uma esperança infundada de que a sorte continuaria bafezando o governo. Não há sorte que resista aos fatos.
E eles se revelaram quando faltou crédito para projetos essenciais, como das obras de ampliação do caótico sistema portuário brasileiro estão seriamente comprometidos, por falta de crédito. O Brasil, por incompetência, perdeu a onda de capital abundante para concretizar os projetos de infra-estrutura, base do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), agora os investimentos serão muito mais difíceis de serem concretizados, devido a falta de crédito em todos os mercados. O Brasil não é uma ilha. Não está imune à nada como comprova a onda de desempregos (8,5% dos empregos da indústria paulista perdidos nos últimos meses) e a apatia e inação do governo que, até março, só empenhou pouco mais de 6,09% dos R$ 20,5 bilhões que tem para aplicar no PAC e realizou apenas 0,65% num desempenho pífio. E, cortando, como tem feito, os juros de forma ortodoxa tende apenas a se afogar na marolinha que, se não for bem cuidada, se transformará num tsunami que nos levará ao atraso de ter um ano com crescimento zero do produto interno.

terça-feira, março 10, 2009

OS LAÇOS QUE OS UNEM SE ESTREITAM



O abraço entre os que se sabem impuros

Lembro de um candidato que passou vinte anos dizendo que “se eleito” mudaria completamente a face do país. Nunca antes neste país e, talvez no mundo, na verdade, alguém falou tanto em mudar quando Luiz Inácio Lula da Silva. Até mesmo no seu discurso de posse, nos idos de primeiro de janeiro de 2003, ainda assumiu dizendo que a palavra chave de seu governo era “mudança”. Mas o que mudou de fato? Um Senado presidido, pela terceira vez, por José Sarney, ou uma Câmara presidida, pela terceira vez, por Michael Temer? Ou será que a eleição de Fernando Collor de Mello, que chegou a ser sinônimo-mór de corrupção, para chefiar a Comissão de Infraestrutura que fiscaliza o PAC? Ou a mudança será de que Lula usa a máquina com a maior desfaçatez, com ar de dissimulação, para promover uma candidata de seu partido? Que, contanto, que alcance seus objetivos não importa que se destruam os partidos e o futuro do país? Que quanto mais fala menos as coisas acontecem na vida real?
Bem não se pode negar que, ao não mudar, ao manter o que era indispensável, como a estabilidade econômica, uma razoável responsabilidade fiscal, câmbio flutuante e inflação na meta, Lula não tenha mudado (suas posições antigas) e acertado. Porém, no que tange ao modo de fazer política não mudou absolutamente nada do que precisava ser mudado. Pelo contrário enraizou o clentelismo oficial com o bolsa família, sedimentou, com a cooptação dos sindicalistas no governo, o fisiologismo descarado e, ainda, com formas dissimuladas, como apontou o ministro Gilmar Mendes, alimentou o conflito no campo e, com práticas como a do Mensalão, o crime organizado na política nacional.
Convenhamos que os petistas têm razão quando dizem que não inventaram nenhuma podridão nova, mas, com marketing e o colaboracionismo omisso das oposições, tornam o jogo político cada vez mais um circulo vicioso onde a locupletação e o crime se lavam com a hegemonia política, daí que os escândalos se tenham tornado tão normais que não escandalizam mais ninguém. Seja o deputado que esconde um castelo ou um avião, o funcionário público com uma mansão, a venda de cargos na polícia ou ex-dirigentes públicos ostentarem vidas milionárias quando saem de seus cargos quando são (eram?) reconhecidamente sem posses. O fato é que, ao propiciar a vitória do que supostamente, seria o seu oposto, o agora senador Collor, Lula se mostra como um patrocinador do “é dando que se recebe”, um adesista militante e, portanto, fator de aceleração da degeneração política denunciada amplamente por Jarbas Vasconcelos. Seu comentário de que a vitória de Collor, com seu aval, na comissão do Senado, de que “O acordo que elegeu o Sarney, elegeu o Collor” é uma concordância com o que vem sendo feito e uma reconciliação com o ex-presidente alagoano que, sabiamente, retrucou Aluízio Mercadante, lembrando o caso dos aloprados, dizendo que “Não sou mais puro nem impuro do que ninguém”.

quinta-feira, março 05, 2009

NO PALCO NOVAMENTE



Os irmãos siameses se reconciliam
Lembram de um ex-presidente que foi apeado do governo e já foi símbolo da corrupção? Ele foi o primeiro presidente do Brasil que afirmou que ia deixar a esquerda perplexa e a direita estupefata e tem o nome de Collor. Prometeu e cumpriu. Mas, sem prometer, mais longe foi Lula da Silva que alardeava fazer grandes mudanças na política e na economia. Não mudou nada e mesmo assim foi reeleito. Collor criou muitas frases de efeito como: "Tenho aquilo roxo" ou "O tempo é o senhor da razão" ou "Minha gente", mas, teve que renunciar por pressão pública e todo o aparato sindical contra ele. O Lula da Silva navega em águas mansas com frases: como "Eu não sabia", "Nunca na história desse país" ou “Companheiros”. Aparentemente, como disse o governador Aécio Neves, “Lula não é Collor”, porém, são, no fundo, muito parecidos. Basta comparar o depoimento de Lurian, por exemplo, com o factóide da “privatização”. Os métodos são os mesmos. O que se pode dizer é que, com o tempo, um ficou mais hábil do que o outro.
Se dúvidas havia de que se reconhecem como irmãos, depois que o senador Collor foi recebido no Planalto, sua volta triunfal à cena política elegendo-se presidente da estratégica Comissão de Infraestrutura do Senado, ao derrotar o PT, com o apoio de Lula, José Múcio, Renan Calheiros, o PMDB e o DEM liquida o passado como se ambos se perdoassem pelos excessos. E a coerência política anda tão fragmentada que o PSDB, num equívoco lastimável, se uniu ao PT para apoiar a derrotada candidatura da senadora Ideli Salvatti. Esta, uma guerreira permanente e inconsciente a favor do governo, teve que, abandonada pelo Planalto, assistir impassível à ofensiva do ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, em favor de Collor e engolir as desculpas esfarrapadas do presidente de que fez o que era possível quando o líder do PMDB, Renan Calheiros, só mobilizaria sua tropa de choque para votar contra ela com o aval governista.
As ironias da situação são várias, inclusive porque, em 2007, quando Calheiros renunciou à presidência do Senado para não ser cassado, foi a brava Ideli que assumiu publicamente sua defesa para ser recompensada da forma que agora foi. Sobrou como consolação o senador Aloizio Mercadante (SP) ter sido duro com o PMDB ao dizer que "Foi uma aliança espúria que interferiu no direito legítimo e democrático do PT". Não compreenderam que foi um ajuste do passado. Um irmão devolvendo o resto do brinquedo que tomou do outro. Collor é Collor. Tanto que se revelou, mesmo que por uma alfinetada do senador Sérgio Guerra (PE), ao responder que "Sou um homem bastante experimentado e sofrido para chegar num momento como este e ouvir ironias. Aprendi a ser um homem cordial não somente pela educação que recebi, mas pelas experiências e pelos sofrimentos que colhi ao longo da vida pública. Mas não está apagado dentro de mim a vontade do debate, do enfrentamento e a coragem". Voltou ao palco.