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quarta-feira, janeiro 11, 2012

Vargas Lhosa e as ilusões atuais


Acabei de ler o excelente livro de Ricardo Setti “Conversas com Vargas Lhosa-Antes e Depois do Nobel” em que o romancista peruano Mario Vargas Llosa, de 75 anos, que concorreu à presidência de seu país em 1990 e ganhou o Nobel de Literatura, é entrevistado sobre política, literatura, sobre o ofício de escritor e sua própria, e rica, experiência e carreira. Falar sobre Vargas Lhosa é chover no molhado. Figura humana notável, escritor profícuo e de clássicos como “Conversa na Catedral” ou “Pantaleão e as Visitadoras”, entre outros, não precisa ser louvado e sim lido, que é a forma real de reconhecer seu trabalho e talento. Vargas, porém, nas suas entrevistas a Setti, toca em questões que são cada vez mais atuais como é o caso da dificuldade de se cultivar a democracia, de se ter coerência, de se ter um comportamento, de fato, de pessoa humana e responsável na América Latina onde, constata, as ideologias, as visões distorcidas, pesam mais do que a realidade. Vargas, que desejava apenas ajudar seu país, mostra que pagou um preço elevado, mesmo com toda notoriedade que possui, por sua retidão, por pensar, refletir e ter idéias. A política, infelizmente, é feita pelo poder pelo poder, pela mediocridade, portanto, é a lógica do imediatismo, a desconsideração pelo outro e, muitas vezes, sua demonização.
Mais do que nunca, as nossas sociedades, na América do Sul, contaminadas de um marxismo oco, maniqueísta, que infestou os intelectuais preguiçosos, junto com a politicagem de oportunismo e resultados, tem nos levado a comportamentos irracionais, como a tentativa de setores sociais de tentar, por meio de leis e regulações, nos impor a igualdade e a cidadania o que resulta em equívocos como, por exemplo, de não permitir que os jovens de menos de dezoito anos trabalhem, embora, ao mesmo tempo, sejam bombardeados por propagandas que incitam ao consumo e exigem dinheiro. Como não dá certo pretendem regular também a publicidade e a mídia. É um grande engano pensar que se pode domar o homem e a sociedade retirando seu livre arbítrio, seu poder de decisão. È preciso ensiná-lo a pensar e não deixar que outros decidam, pois, alguém decide, ao fazer leis ou aplicar regulamentos, o que se pode, ou não, fazer.
Vargas, com razão, nos mostra que a democracia é uma flor frágil que depende da capacidade que temos de lutar por liberdade política e de opinião. Precisamos não apenas fornecer direitos e não dar, principalmente aos jovens, a sensação de que tudo lhes é devido. É esta política insana de criar facilidades, em nome do povo, que faz com que se pense que é factível ter direitos sem ter responsabilidades, que faz com que os jovens se casem e se descasem, porque esperam que o outro seja uma fonte de prazer permanente; que não se permite dar uma palmada no filho, sob pena de ter problemas, e não se pune o filho que, sob este argumento, chantageia os pais ou os menores infratores que dizem, sem o menor pudor, que não podem ser presos. Vargas nos lembra que, para criarmos uma sociedade que não seja apática, que não seja, como os animais, interessada apenas em comer, fazer sexo e dormir, é indispensável que se ensine que não há almoço grátis, que não é possível bem-estar sem determinação, sem trabalho árduo e sem perseverança. Não adianta ser a sexta economia do mundo sem uma ordem social coerente, sem uma sinalização de que para ser cidadão é preciso fazer escolhas conscientes e estas não virão de pessoas que não fizerem esforços, que não tiverem escolaridade, cultura e respeito pelas leis.

Foto: Coluna de Augusto Nunes/Veja/Editora Abril

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