Li, praticamente, sem
parar o excelente livro de Marcone Formiga “Em Nome da Verdade-Cartas para o
meu neto”, publicado pela Editora Dom Quixote, 2004. Trata-se de um testemunho
importante de quem conviveu de perto com muitos dos personagens que fizeram parte
da história recente do país. Como um bom repórter, que sempre foi, Marcone, que
desenvolveu uma escrita marcadamente jornalística durante sua vitoriosa
carreira, consegue, com habilidade e segurança, manter o leitor atento aos
fatos que narra e curioso pelo que pode oferecer e, creiam, oferece muito para
quem se interessa em ver além das versões correntes e sentir, um pouco, como os
mecanismos do poder são acionados.
Embora não se isente de
fazer julgamentos, e muitos deles, mesmo nas entrelinhas, extremamente duros, o
repórter, que sempre viveu nele, tenta, na medida do possível, se ater aos
fatos e julgar com a isenção possível. De fato, como uma testemunha de muitas
histórias recentes do poder, Marcone Formiga nos faz visitar, e não se exime de
tentar traçar um perfil, de figuras tão diversas quanto às de Jânio Quadros,
João Agripino, Petrônio Portela, Geisel, Figueiredo, Golbery, Collor e tantos
outros que se tornaria exaustivo, e tiraria o prazer de descobrir na leitura um
desfile de novidades, bem como os caminhos que o levaram a participar da proximidade
de tais figuras.
Como uma espécie de
colunista social-mór de Brasília, na prática conviveu ou conheceu todas as
pessoas que foram fundamentais para a cidade, como um jornalista que cobriu
durante anos o Planalto e um editor da revista “Brasília Em dia”, onde fez das
entrevistas uma espécie de confessionário e repositório de ideias, Marcone, foi
um espectador privilegiado de muitas coisas que ele, sem sensacionalismo, mas,
com o intuito de esclarecer e desvendar aspectos, mostra com serenidade e com
sua visão liberal e crítica de um jornalista que sempre procurou se pautar pela
ética. Mesmo quando relata sucessos de sua jornada não se abstém de mostrar
que, além de muito trabalho, contou com a sorte, embora está tenha tido muita
ajuda de seu faro de repórter.
O livro, além de ser um
repositório de memórias, tem também o mérito de dar testemunhos insuspeitos
sobre muitas figuras, inclusive resgatando a verdade de certos comportamentos. É o que faz quando revela que o ex-ministro Mário Andreazza, sempre visto como
um aproveitador do poder, uma espécie de padrão de corrupção, na verdade,
exerceu o poder e, gostava dele e de sua pompa, não para tirar proveito pessoal
e sim como uma forma de fazer coisas, de buscar melhorar a vida brasileira. Morreu,
como aconteceu com o governador de Rondônia, Jorge Teixeira de Oliveira, que
teve um poder imperial naquele estado, com problemas financeiros e dependendo
da assistência de amigos. Por essas revelações, e outras tão interessantes como
esclarecedoras, o livro de Marcone nos sabe a uma boa aula de jornalismo,
história e de política. E tudo isto, sem esforço, de vez que é uma leitura
extremamente saborosa.
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