A
bem da verdade não há nada de muito novo no fato de que três técnicos de
futebol sejam demitidos de uma hora para a outra, exceto ser em lote e as
decisões terem sido noturnas. A tônica forte da vida dos técnicos brasileiros é
um retrato da nossa mentalidade: o imediatismo. Basta uma sequência de maus
resultados para qualquer técnico, por melhor que seja, ficar com uma espada sobre
a cabeça. No caso atual, se olharmos para o trabalho do Cuca, ainda que possa
ter seus problemas, é um reflexo também da falta de um ambiente estável no São
Paulo. Já Zé Ricardo nem teve tempo, a rigor, de mostrar nada. Inclusive, se
comparado ao grande rival do estado, o Ceará, que se encontra a 7 jogos sem
vencer, os quatro dele deveriam ser tolerados. Ainda mais que a defesa do
Fortaleza, mesmo com Ceni, não apresentava um bom rendimento. Já Oswaldo de
Oliveira é uma ironia das grandes. O Fluminense, mesmo com dois a menos, fez
seu melhor jogo dos últimos tempos. A vida de técnico não é mesmo nada fácil.
Aliás,
numa entrevista muito feliz, Sampaoli, se queixava das críticas aos técnicos,
de não compreender nossa mentalidade. E apontava para Mano Menezes, um treinador
de qualidade, que saiu do Cruzeiro, depois de uns resultados ruins, e só obteve
vitórias no Palmeiras. Ele seria ruim em Minas e bom em São Paulo? Não. O
exemplo inverso é o de Rogério Ceni que estruturou o Fortaleza e teve uma trajetória
vitoriosa, a ponto de ser aclamado como o melhor técnico que a equipe já teve,
mas, não conseguiu, na sua curta passagem pelo Cruzeiro, nada de relevante. É
um técnico ruim? Claro que não. Tem toda razão Sampaoli quando afirmou que “Não
se crê em alguém, o resultado muda tudo e torna alguém bom ou ruim. Há mais
modificações do que do treinador em si. Que treinador é descartável e só é bom
quando ganha e mal quando perde. Acaba sendo mais importante o roupeiro do que
o treinador. Treinador se vai sempre”. É a pura verdade. É indispensável se
mudar esta mentalidade de curto prazo e dar estabilidade aos técnicos para
fazer um bom trabalho. Lembro aqui os técnicos Odair Helmann, do Internacional
e Tiago Nunes, do Atlético Paranaense. Trata-se de dois grandes técnicos. Este ano
o Internacional, até agora, não ganhou nada. Já o Atlético Paranaense ganhou a
Copa Brasil. Será que por isto o trabalho de Tiago é melhor do que o de Odair?
Difícil de dizer. Futebol também é acaso, é sorte, inclusive dos jogadores.
Odair perdeu o campeonato gaúcho nos pênaltis. Tiago conseguiu eliminar o
Flamengo e o Grêmio nos pênaltis. Um lance diferente podia ter mudado tudo. O
Edenílson, por exemplo, foi crucificado por um lance que, dificilmente, Marcelo
Quirino fará outro igual. E, aqui, entra o imponderável, inclusive a condição física
e psicológica dos jogadores. Muitos deles não jogam o que podem por falta de
treino ou por excesso de jogos. E, se o resultado não vem, a culpa será sempre
do técnico. Os dirigentes deveriam ser muito mais cuidadosos tanto para
contratar técnicos (e jogadores) como para dispensar. Pensar em criar um estilo
de jogo e uma equipe, como no passado, quando se sabia quem iria jogar e se
decorava o nome dos jogadores. Os times mais vitoriosos fazem isto. Cito o
Grêmio que, em parte pela estrela e a competência de Renato, busca manter e reforçar
uma equipe. De qualquer jeito a vida de técnico não tende a ser nada fácil
mesmo. Lembro de, pelo menos, dois deles que tiveram um imenso sucesso com seu
time e, mesmo assim, foram dispensados: Diego Aguirre, no São Paulo, e Lisca,
no Ceará. Se houvesse bom senso e uma visão de longo prazo, certamente, as equipes
seriam bem melhores e o inferno astral dos técnicos mais atenuado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário