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sexta-feira, outubro 04, 2019

O FUTEBOL NO FUNDO DO POÇO




O Brasil anda de pernas para o ar. Decididamente as pessoas perderam a noção das coisas. Assisto estarrecido algumas pessoas próximas se comportarem de uma forma que está longe de ser crível que tenha algo de racionalidade. Nem vou citar qualquer coisa de posições políticas porque, algum tempo atrás, prometi a mim mesmo que, dado a falta de noção (e conhecimento, inclusive histórico, que as pessoas demonstram), não é muito sensato, nem conduz a nada, discutir posições políticas. Vou escrever mesmo é sobre o que acontece nos campos de futebol que, como dizem, não é só futebol. É também um retrato de nossa sociedade. A loucura que invade nossos campos, por exemplo, se demonstra nas agressões entre torcidas. E, faz algum tempo, se transporta para as agressões gratuitas. A grande realidade é que futebol é um esporte. Um esporte que apaixona e que gera muito dinheiro, mas, ganhar e perder depende de muitas condições. Não é só o querer de dirigentes, de técnicos, de jogadores ou de torcidas.
Neste mundo, no Brasil, em especial, a posição mais frágil é a do técnico, mas, o jogador também está extremamente exposto. Não importa como esteja. Se exige dele é o resultado. E os julgamentos são implacáveis. Neymar, que é um indiscutível craque, tem sua vida esquadrinhada, cada ato seu examinado, pesquisado, analisado como se tivesse a obrigação de ser um ser perfeito. Cito um jogador de grande sucesso. Porém, se exige do jogador que, além de jogar muita bola, em toda e qualquer situação, se comporte como uma primeira dama. Garrincha, o anjo das pernas tortas, o maior gênio, que este esporte já teve, se vivo, seria execrado por mau comportamento e, no campo, já teria sido agredido por “desmoralizar” o adversário. Empurraram para o campo o politicamente correto, apesar de toda a tecnologia do VAR, não se conseguir nem correção nas arbitragens, de só servir para impedir gols e tornar o jogo mais chato. Em suma, o que se espera, hoje, é que, num campeonato brasileiro, como o atual, em que os times são extremamente parecidos, todos sejam feitos de super-homens e de gentlemen. E, levada a lógica vigente, como temos, no mínimo, doze grandes clubes, todos teriam que ser campeões! O que é certo: ter um campeão com onze torcidas conformadas com o fracasso de seus times ou um campeão com onze torcidas invadindo centros de treinamentos e agredindo dirigentes, técnicos e jogadores? O que diz o seu bom senso?
Lembro, agora, que, ultimamente o técnico do Santos, Jorge Sampaoli, parece até um analista do Brasil.  Não que diga nada errado. Muito pelo contrário. Tem acertado com uma frequência muito maior do que seu time joga bola. Ele afirmou:  “Vitória gera satisfação para nós. A pressão que se gera em uma derrota chega a ser ridícula. São críticas que chegam ao ponto de se invadir um CT. É assim que funciona e o que temos que viver nesta profissão”. É um diagnóstico do absurdo nosso de cada dia. O futebol, que deveria ser uma fonte de prazer e de diversão, se transformou também numa demonstração de que a ignorância é ousada. Não respeita a ordem, nem a civilização. Até nos tempos mais bárbaros sempre se preservou o circo. A luta sempre foi pelo pão. No Brasil conseguiram subverter tanto a ordem que nada é sagrado. Nem o pão, nem a igreja, nem o circo. Aí do nosso futebol!

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