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terça-feira, agosto 26, 2025

Uma reflexão sobre a morte, a imortalidade e suas visões

 


ORGANIZANDO A MORTE:  NO RITMO DO CANDOMBLÉ, DA CIÊNCIA E DA MEMÓRIA

(Para o cantador da vida José Valdir Pereira, um preservador de memórias)

Silvio Persivo

Vou me valer do candomblé, que  nos lembra uma verdade profunda: a morte não é um fim abrupto, mas uma transição. "Continuidade, não fim" é a essência que guia a compreensão de Orum, o espaço onde a pessoa se transforma em ancestral. Nesta visão, a morte é parte de um ciclo vivo, em que o indivíduo não desaparece, mas ingressa em uma nova função dentro de um todo que permanece. O guardião Iku, nesta tradição, emerge como a força que conduz os espíritos. Não é visto como inimigo nem como algo externo ao equilíbrio natural; é parte do vasto ecossistema espiritual que sustenta a ordem do cosmos. Esta percepção aproxima a morte da própria vida, em uma dança contínua que mantém a harmonia entre o que foi e o que será.

Por isto o uso do branco no luto, associado a Oxalá, simboliza paz, pureza e proteção. É a cor que acolhe a passagem, marcando o momento de transição com uma energia de serenidade. Os cantos, rezas, oferendas e a presença coletiva atuam como bússolas emocionais e espirituais, oferecendo consolo, sentido à perda e acolhimento aos enlutados. Nessas práticas, o laço entre os vivos e os falecidos não se rompe; ele se transforma e se expande pela ancestralidade que nos conecta.  A ideia de que laços são eternos pode soar paradoxal frente ao impulso humano por explicações racionais. É verdade que, quando nos faltam explicações, criamos lendas, crenças e mitos. Mesmo assim, muitos de nós, que tentamos ser mais céticos, reconhecemos uma transformação fundamental na maneira de entender o mundo: Lavoisier nos lembra que “nada se perde tudo se transforma”. Assim, a memória, a presença dos ancestrais e a prática espiritual continuam vivas dentro de nós, moldando escolhas, valores e identidades. Neste sentido, a crença na continuidade não é apenas consolo; é uma forma de preservação do que nos torna humanos.

Esta visão não nega a ciência; pelo contrário, a coloca em diálogo com ela. A percepção de que a consciência pode permanecer de alguma forma, seja na memória coletiva, na herança de ensinamentos ou na continuidade de rituais, resiste à dissolução absoluta. Mesmo quando sentimos o peso da ausência, a lembrança, os ensinamentos e o legado daqueles que partiram permanecem. E é neste sentido que a ideia de eternidade se aproxima da nossa experiência cotidiana: não como imutável imortalidade física, mas como uma presença contínua que se reencontra na prática, no afeto e no compromisso com o bem comum. Em última análise, a experiência humana de luto e memória se entrelaça com a sabedoria ancestral que preserva a paz, a dignidade e o sentido da vida. O Candomblé oferece, assim, não apenas um ritual de despedida, mas um mapa para entender a continuidade: a morte como passagem, a ancestralidade como presença, e a prática coletiva como abrigo que nos impede de nos  perdermos no vazio, que a ciência diz que é o nosso fim, ser o que fomos: matéria sem consciência.

Numa forma simples de dizer:  penso que sim, a continuidade da vida, em sentido amplo, nos torna eternos. A partir desta percepção, a “ausência”, com a morte não estarei aqui,  não é o fim do ser, mas a passagem para uma forma de presença que molda quem somos. No entanto, reconheço o peso da mudança-a percepção de que vou sentir muita falta da consciência que temos do mundo, do nosso senso do eu e do nosso tempo partilhado com os outros. Isto é a vida e também a morte. Afinal vivemos  morrendo e acumulando, enquanto possível, memórias.

Ilustração: Issuu.

terça-feira, agosto 12, 2025

Empreendedorismo no Brasil: a inglória luta pela sobrevivência


O empreendedorismo no Brasil desempenha um papel fundamental na economia e na transformação social. No entanto, a sua realidade está longe de ser um meio de oportunidades e inovação. Para a grande maioria, empreender é uma necessidade imposta pelas circunstâncias, uma luta diária para sobreviver em um ambiente de negócios cada vez mais hostil. Apesar de existirem mais de 23 milhões de empresas ativas no primeiro quadrimestre de 2025, a maioria delas enfrenta um ambiente instável e cheio de obstáculos. A burocracia excessiva, a escassez de apoio financeiro e um mercado desafiador tornam a sobrevivência uma luta constante. Neste cenário, formalizar um negócio já é um desafio por si só, com custos de abertura elevados que afugentam muitos empreendedores em potencial. Como afirma o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Rondônia, Raniery Coelho, "O empresário é um otimista que abre suas portas todos os dias na esperança que os clientes venham", mas está sendo preciso, no momento, muito mais do que ser otimista nas atuais condições. O empresário tem que se virar de todas as formas com o aumento dos custos, dos impostos, das obrigações que mudam quase diariamente.

Além disto, a insegurança jurídica se aprofundou, gerando incertezas sobre as regras do jogo e deixando os empreendedores vulneráveis a mudanças abruptas na legislação. O que deveria ser um ambiente de previsibilidade para o crescimento, tornou-se um campo minado de incertezas.

Em meio a este cenário, a reforma tributária surge como mais um desafio. Com a promessa de simplificação, ela exige o uso de tecnologias e eleva a carga tributária, impactando diretamente o caixa de pequenos e médios negócios. A exigência de novas ferramentas tecnológicas, muitas vezes, é um luxo que o empreendedor comum não pode se dar, e o aumento dos impostos funciona como um sócio que só exige e nada oferece.

Enquanto nas redes sociais especialistas e influenciadores discutem tecnologias de ponta, automação e inteligência artificial, a realidade do cidadão comum é bem diferente. Para a grande maioria, esses recursos são inacessíveis, e o que realmente importa é conseguir manter as portas abertas, mesmo que isso signifique trabalhar em condições precárias. O que parece é que, apesar do empreendedorismo ser a força vital que sustenta a economia, gerando empregos e promovendo mudanças sociais, o governo federal ignora as necessidades e problemas da iniciativa privada. O Estado, muitas vezes, é visto como um sócio parasita, um obstáculo, e não como um parceiro que deveria impulsionar o crescimento.

Assim, o empreendedorismo no Brasil não surge como uma escolha por um sonho, mas como uma estratégia de sobrevivência. E só os mais resilientes, obstinados e criativos conseguem resistir às adversidades, embora muitos acabem desistindo pelo caminho forçados por golpes inesperados como novas tarifas ou aumento de insumos. No fim das contas, empreender no Brasil é uma luta por uma tábua de salvação, para aqueles que não têm outra alternativa a não ser lutar para sobreviver.

Ilustração: Jornal do Empreendedor. 

Um olhar sobre a mente de um outsider


 

O livro, recentemente lançado pela Editora Citadel, “Elon Musk-Gênio ou Louco?”, que se pode pensar que seja uma biografia tradicional, foge, e muito, de tal padrão, pois o autor, Dennis Kneale, um jornalista que escreve como se estivesse conversando, tenta, efetivamente, compreender a mentalidade do bilionário, os seus princípios, o que faz com que as opiniões alheias e os fracassos sejam vistos como alimento para uma busca permanente de metas que parecem inatingíveis.  É uma tentativa de compreensão do comportamento de um empresário que confronta de peito aberto autoridades, políticos e jornalistas e se guia por formas consideradas "contraintuitivas", como "Provoque seus críticos e torture seus inimigos", "Trabalhe em horários impossíveis e faça com que os outros acompanhem", “Reduzir, reduzir, reduzir”. “A liberdade de expressão é tudo” e “Sonhe Alto”, que são princípios, que Dennis Kneale transforma em “Lições”. Não são lições, mas sim a base da lógica incomum de Musk, que inclui uma visão de decompor os problemas em partes mais simples , fundamentais. Confesso que li o livro de uma vez só, sem parar. Kneale realiza, com propriedade, um passeio provocador pela vida de Musk na medida em que trata cada capítulo como meio de mostrar como, a partir da ideia de que, para ele,  a vida é uma simulação, suas posturas contra os críticos, o foco no trabalho, a obsessão de produzir mais com menos e os sonhos altos, em projetos tidos como irrealizáveis (povoar Marte), fazem com que, mesmo nos fracassos, sua visão acabe por ter sucesso. Talvez o título, "Gênio ou Louco?", não seja tão bom, mas reflete o paradoxo de que, por um lado,  o visionário que fundou e lidera empresas revolucionárias como Tesla, SpaceX, Neuralink e X (o antigo Twitter) é a mesma figura controversa que desafia normas, causa polêmicas, transforma amigos em inimigos e inimigos em amigos, com uma enorme facilidade, por não sair um milímetro dos “princípios” em que acredita. O livro, muito diferente, por exemplo, da biografia Walter Isaacson, que louva o biografado, busca a imparcialidade sem, em nenhum momento, perder a capacidade de procurar iluminar o comportamento e a trajetória de quem foi capaz- e isto é inegável- de revolucionar diversos setores, como o automotivo, aeroespacial, comunicações, com a improvável combinação de autoconfiança, ousadia e independência. Até mesmo quando, como com Trump, por um breve tempo, ocupa um cargo no governo, Musk continua a ser um outsider, por isto prossegue sendo uma das figuras mais influentes no mundo, sempre buscando novos desafios e ideias para transformá-lo.  Isto, e quem confessa é o próprio autor, torna difícil escrever o fim do livro. Como o resultado mais provável é o mais irônico, o tema de que tratou ainda não teve fim. É um livro instigante que não se pode deixar de ler. 

Uma digressão sobre o uso do Chatgpt e a herança genética


Foi, recentemente, divulgado um estudo dos pesquisadores do Laboratório de Mídia do MIT que apresentou como resultado o fato de que os usuários do ChatGPT apresentaram menor engajamento cerebral e "desempenho consistentemente inferior nos níveis neural, linguístico e comportamental" numa comparação entre 54 participantes, divididos em três grupos, aos quais se pediu que escrevessem redações usando o ChatGPT da OpenAI, o mecanismo de busca do Google e nada, respectivamente. Os pesquisadores usaram um eletroencefalograma (EEG) para registrar a atividade cerebral e descobriram que, dos três grupos, ao longo de vários meses, os usuários do ChatGPT ficaram mais preguiçosos a cada redação subsequente, e, com grande frequência, recorreram ao recurso de copiar e colar ao final do estudo. O resultado foi considerado preocupante mesmo que o artigo ainda não tenha sido revisado por seus pares e sua amostra seja relativamente pequena. Mas a autora principal do artigo, Nataliya Kosmyna, alegou ser importante divulgar os resultados para levantar preocupações de que, à medida que a sociedade depende cada vez mais dessas ferramentas para sua conveniência imediata, o desenvolvimento cerebral a longo prazo pode ser sacrificado no processo. É uma tese muito interessante que, no fundo, tem por base o conceito de uso e desuso, popularizado por Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829). Foi ele quem propôs que órgãos muito usados se desenvolveriam, e os pouco usados atrofiariam, transmitindo essas mudanças aos descendentes. Embora depois Darwin tenha concordado que o desuso poderia levar à redução funcional do órgão, num indivíduo, acrescentou o pensamento de que apenas mutações vantajosas herdáveis e a seleção natural explicariam mudanças evolutivas reais. De modo que esta ideia não é aceita integralmente hoje, pois sabemos que características adquiridas pelo uso ou desuso não são herdadas geneticamente desta forma. Porém, é preciso acentuar, que cientificamente, “o órgão que não se usa deteriora” é verdadeiro como princípio fisiológico de adaptação e atrofia por desuso em organismos vivos. Ainda que com a ressalva de que não se aplica como teoria evolutiva de herança de características adquiridas. Bem, o fato é que há uma diferença significativa entre a visão de Lamarck vs Darwin sobre “uso e desuso” dos órgãos. Enquanto Lamarck acreditava que o desuso causava atrofia e está atrofia era herdada, a posição de Darwin foi de que apenas poderiam ser transmitidas se conferissem alguma vantagem à espécie. Bem, o que sabemos é que este processo é uma parte fundamental da evolução, onde as características que ajudam na sobrevivência e reprodução tendem a se perpetuar. Então, podemos dizer que, em última instância, as mudanças nos indivíduos podem se transformar em mudanças na espécie, contribuindo para sua evolução ao longo das gerações. Com base nisto, como tudo é relativo, é bem possível também que a hipótese de Darwin possa não estar 100% certa e que também possam ser hereditários mudanças que não contribuam para a evolução da espécie. Até porque a seleção é aleatória. Considerando isto, de fato, os resultados sobre o uso do ChatGPT podem ser muito preocupantes. E uma evolução que contribua para a involução humana. E mesmo que não passe de geração à geração persiste o fato de que o desuso atrofia o órgão.

Ilustração: Revista Fapesp. 

O Manchester City herdou o sobrenatural de Almeida

 


O futebol, hoje, como todas as coisas é globalizado. É verdade que, até por uma questão econômica, a Europa apresenta-se como num patamar superior, mas, esta copa tem demonstrado isto, futebol se joga é dentro das quatro linhas e lá, muitas coisas, fogem da questão de estrutura, do talento dos jogadores e até da capacidade dos técnicos. Entram, de forma decisiva, fatores como o psicológico, as circunstâncias e a sorte. Porém, de uma forma geral, o jogo está muito equalizado. Uma coisa provada no atual mundial é que não existe jogo fácil. Somente um time, aliás de amadores, o Auckland City, esteve fragilizado nos seus jogos. Todos os outros times, mesmo quando perderam, deram trabalho aos adversários e demonstraram terem jogadores de qualidade. A visão, por exemplo, de que os times da América do Sul estavam num nível inferior se dissolveu com o Botafogo impondo uma derrota ao favorito maior do torneio, o PSG, que havia estreado esplendorosamente metendo 4x0 no Atlético de Madrid. Mas, uma demonstração clara de que há diferença, mas não tanta é que, até agora, dos sete jogos realizados entre os times brasileiros e europeu, três foram vencidos pelos brasileiros, dois pelos europeus e aconteceram dois empates. A sensação de distância veio de que o Flamengo, do qual se esperava muito mais, perdeu, de forma surpreendentemente fácil para o Bayern. Mas, foram os vacilos e as circunstâncias, tanto que o time europeu venceu o Boca Juniors por 2x1, mas não foi um jogo tão fácil quanto como o do Flamengo. A prova definitiva de que o futebol está pasteurizado, ou seja, quase todos num nível semelhante, foi a espetacular vitória do Al-Hilal por 4x3 sobre o Manchester City. O Al-Hilal já havia demonstrado que seria um osso duro de roer, pois empatou com o Real Madrid e o RZ Salzburg. Apesar disto ninguém apostava, inclusive eu, que não fosse esmagado pela máquina de jogar futebol do time inglês. Não foi o que se viu. Apesar de sua predominância no jogo, as qualidades do time saudita foram ajudadas pelo famoso Sobrenatural de Almeida, que o Fluminense emprestou para o Manchester City. Por mais que tenha jogado muito bem certas coisas são inexplicáveis num jogo maravilhoso e inesquecível como foi este. Em primeiro lugar o acerto de um passe preciso como o de Cancelo para o primeiro gol. Depois não há como não atribuir ao sobrenatural o gol de cabeça de Koulibaly, que aparece do nada e cabeceia como um matador de forma inapelável. Mas, a presença do Sobrenatural de Almeida foi soberba no quarto gol de Marcos Leonardo. Claro que é um goleador nato, um atacante vocacionado para fazer gol, porém estava morto em campo, deveria até ter saído e não saiu. E aparece no chão para fazer um gol devastador, mortal. O Al-Hilal fez história. Mas, não se pode deixar de acentuar que os dois melhores times do momento, favoritos disparados, que poderia se apontar como destinados a serem campeões invictos, o PSG e o Manchester City, já foram derrotados nesta Copa do Mundo de Clubes.  Podem dizer o que quiserem, mas a frase de Renato Paiva é antológica; “O cemitério do futebol está cheio de favoritos”. 

Livro inédito sobre Elon Musk é um convite para pensar sobre nossas convicções

 


Há certas pessoas que são impossíveis, se goste ou não, de ser ignoradas pela diferença que fazem no seu tempo. Um César, um Alexandre, um Napoleão, um Leonardo Da Vinci, só para citar os que me chegam sem dificuldade, fizeram muita diferença no seu tempo. No mundo contemporâneo há diversas personalidades que, com certeza, serão lembradas no futuro, porém nenhuma me parece ter tido uma vida tão repleta de polêmicas e importância quanto a de Elon Musk, que, além de ter acumulado uma fortuna que o coloca entre os homens mais ricos do mundo, influenciou muito em campos tão diversos como os setores automotivo, aeroespacial, de comunicações e de tecnologia com uma combinação de ousadia, em certos momentos até de  provocação e outros de uma atuação surpreendente, como foi sua rápida passagem pelo governo de Trump. Sempre que leio alguma coisa sobre Musk mais fico interessado na trajetória deste que, sem dúvida, faz parte de uma minoria que muda as condições de nosso mundo. Assim estou muito interessado na obra do premiado jornalista Dennis Kneale , que assina o livro Elon Musk: gênio ou louco?, que, agora, foi traduzido e publicado no Brasil como novidade do catálogo da Citadel Editora. A obra, segundo release que recebo, apresenta os bastidores da trajetória do bilionário. O autor, ainda segundo o texto, apresenta o homem mais rico do mundo sob múltiplas camadas: empreendedor radical, visionário inquieto e figura que desafia as convenções de poder e autoridade em todo o mundo. Kneale não se limita em narrar sucessos, como os da Tesla e da SpaceX, mas procura entender o que há por trás das decisões que moldaram o império do sul-africano, até mesmo aqueles que resultaram em fracassos. Ele revela como Elon Musk opera a partir de uma lógica incomum, baseada em chamados “primeiros princípios”, um método de raciocínio que decompõe problemas até suas verdades fundamentais. O livro supera os limites de um perfil sendo mais uma reflexão sobre os limites da inovação e o preço de perseguir metas futuristas com total desprezo por normas determinantes. O autor mostra como Musk confronta abertamente reguladores, políticos e jornalistas, e como transforma críticas e crises em combustível para crescer. Em episódios marcantes, como sua recusa em ativar a rede Starlink na Crimeia ou sua famosa baforada de maconha em um podcast, vemos como ele lida com riscos extremos, muitas vezes com consequências bilionárias.  A relação de Musk com os políticos também ganha espaço no livro, inclusive sua atuação durante a campanha e governo de Donald Trump. Embora afirmasse agir de forma independente, o bilionário foi fundamental, em momentos estratégicos, fazendo parte do governo e apoiando a agenda trumpista. Este envolvimento, assim como sua defesa radical da liberdade de expressão no X (antigo Twitter), reforça a imagem de um outsider com poder suficiente para dobrar ou ignorar as instituições tradicionais. Aliás, esta é uma das facetas de Musk que mais me impressionam. De certa forma ele sempre foi um libertário, um defensor da liberdade pessoal e de expressão até mesmo quando isto impactou muito fortemente em seu bolso diferentemente de outras personalidades que colocam sua fortuna acima das convicções. Efetivamente estou esperando, ansiosamente, que os Correios me entreguem o livro de Dennis Kneale “Elon Musk: Gênio ou Louco?” para ver as novidades que traz sobre esta figura intrigante. O livro, de qualquer forma, é uma leitura obrigatória para quem busca compreender as estratégias empregadas por uma das personalidades mais influentes da atualidade. É também um convite para ampliar os limites, idéias e ambições e refletir sobre até onde estamos dispostos a seguir nossas convicções e ideais. 

Ilustração: Fox Business.

Gefion: o supercomputador que está transformando a inovação

 Você já ouviu falar no Gefion? Ele é o primeiro supercomputador da Dinamarca, e uma verdadeira potência tecnológica! Inaugurado em 23 de outubro de 2024, com a presença do CEO da Nvidia, Jensen Huang, e do rei Frederik X, o Gefion é muito mais do que uma máquina - é um símbolo de inovação e progresso para o país.

Equipado com 1.528 GPUs H100 da Nvidia, o Gefion foi criado para impulsionar pesquisas avançadas em áreas como saúde, inteligência artificial, ciências da vida, clima e até computação quântica. Imagine só: ele ajuda a descobrir novos remédios, a entender melhor o nosso planeta e a enfrentar desafios sociais complexos. É como uma fábrica de inteligência, que transforma dados em soluções inovadoras!

O nome Gefion tem uma forte conexão cultural: vem da mitologia nórdica, onde a deusa Gefion transformou seus filhos em bois para arar a terra que se tornaria a maior ilha da Dinamarca. Uma metáfora perfeita para um supercomputador que está arando novos campos de conhecimento e inovação no país.

E os números impressionam ainda mais! O Gefion ocupa um espaço maior que uma quadra de basquete, pesa mais de 30 toneladas e foi construído em apenas seis meses-um verdadeiro feito de engenharia. Tudo isto com um investimento de 100 milhões de dólares, fruto de uma parceria público-privada entre a Fundação Novo Nordisk e o Fundo de Exportação e Investimento da Dinamarca.



Segundo Jensen Huang, na inauguração, o Gefion é muito mais do que um centro de dados: “É uma fábrica de inteligência”. Ele promete revolucionar a pesquisa e o desenvolvimento dinamarquês e do mundo, abrindo caminhos para avanços na farmacêutica, tecnologia e sustentabilidade.

Construído com componentes de última geração, o Gefion possui uma capacidade de processamento de petaflops-ou seja, um milhão de bilhões de operações por segundo! Esta velocidade faz dele um dos supercomputadores mais poderosos do mundo, capaz de realizar cálculos complexos em frações de segundo, tarefas que levariam anos para um computador comum.

Além de sua potência, o Gefion foi pensado para ser sustentável. Seus sistemas de refrigeração aproveitam a temperatura do ambiente para economizar energia, e grande parte da eletricidade vem de fontes renováveis. Assim, ele ajuda a Dinamarca a seguir um caminho mais verde e responsável.

O Gefion é, portanto, uma verdadeira revolução tecnológica, que coloca a Dinamarca na vanguarda da inovação mundial. Como a deusa Gefion, ele está arando novos caminhos, transformando o cenário de pesquisa e abrindo as portas para um futuro mais inteligente, sustentável e repleto de possibilidades. 

domingo, maio 25, 2025

O Impacto Negativo da Instabilidade Jurídica no Crescimento Econômico Brasileiro

 


No cenário atual, fica cada vez mais evidente que muitas autoridades e políticos parecem não entender o que realmente significa ter um negócio ou investir de forma segura e previsível. A ausência de estabilidade jurídica e a constante mudança de regras representam o maior dano que o ambiente de negócios pode sofrer. Mais do que altos custos ou burocracia excessiva, a maior ameaça ao crescimento econômico do Brasil é a insegurança jurídica que permeia o sistema regulatório.

A imprevisibilidade das ações do governo, exemplificada recentemente pela mudança na cobrança do IOF, reforça esta triste realidade. Alterações na alíquota, que antes era de 0,38% para investimentos, passaram para 1,1%, enquanto remessas sem destinação específica saltaram de 1,1% para 3,5%. Estas mudanças não afetam apenas o custo imediato, mas criam um ambiente de incerteza que desestimula investimentos de longo prazo e prejudica a confiança do investidor brasileiro.

Países como os Estados Unidos oferecem segurança jurídica e estabilidade normativa, permitindo que investidores planejem suas estratégias com clareza, o Brasil permanece refém de decisões pontuais, muitas vezes motivadas por interesses políticos de curto prazo. Esta instabilidade fragiliza o ambiente de negócios, desincentiva a diversificação internacional e penaliza quem busca proteger seu patrimônio e expandir suas oportunidades além das fronteiras nacionais.

Investidores, especialmente, que buscam proteção contra riscos locais, encontram dificuldades crescentes devido às mudanças regulatórias. A preocupação de que fundos com exposição internacional, como multimercados com hedge cambial, fossem obrigados a pagar impostos a cada movimentação, exemplifica o quanto o cenário é hostil à liberdade de atuação. Embora esta ameaça tenha sido neutralizada, o alerta permanece: o ambiente regulatório brasileiro ainda é marcado por insegurança, dificultando a internacionalização e o planejamento de longo prazo.

O que fica claro é que o governo e a classe política parecem não valorizar quem realmente gera riqueza e empregos no país. A falta de uma política consistente de estabilidade jurídica não só prejudica os negócios existentes, mas também afasta novos investimentos, impede o crescimento sustentável e compromete o futuro econômico do Brasil.

Se quisermos avançar, é imprescindível que as autoridades compreendam que a previsibilidade e a segurança jurídica são pilares essenciais para o desenvolvimento econômico. Sem isto, o Brasil continuará a perder terreno para países que oferecem um ambiente mais confiável para investidores e empresários. Chegou a hora de priorizar a estabilidade e criar um ambiente de negócios que realmente incentive o crescimento e a geração de empregos. Não é possível que nosso futuro fique à mercê de decisões apressadas e que somente visam resolver problemas pontuais. É preciso, urge, mudar a forma da política econômica brasileira.

 

sábado, maio 24, 2025

BERNARDINHO NA “SEMANA S” INSPIROU JOVENS E LÍDERES A SUPERAR DESAFIOS

 

Fui, na sexta-feira 16 de maio, ao Talismã 21 participar da Semana S no dia dedicado aos empresários. Confesso que sem muita expectativa na medida em que, o que é normal, ao ficarmos mais velhos tendemos a ficar mais céticos quanto ao resultado de mesas redondas e palestras de um modo geral. Mas, tenho de reconhecer, que palestra de Bernardinho na Semana S de Rondônia foi, sem dúvida, um momento inspirador e de grande aprendizado para todos que tiveram a oportunidade de assisti-la. Como um dos maiores treinadores de vôlei do Brasil, Bernardinho trouxe à tona, de forma indireta ao usar exemplos, sua trajetória de sucesso, fundamentada em valores essenciais que devem ser ensinados às novas gerações. Sua história demonstra que o caminho para a vitória é pavimentado com disciplina, empenho constante, resiliência e, acima de tudo, muito trabalho.

Ele ressaltou que o vencedor não nasce pronto, mas se constrói a partir de tentativas, erros e persistência. Bernardinho reforçou que o verdadeiro sucesso vem de uma mentalidade de aprendizado contínuo, onde o esforço diário é indispensável. Segundo ele, o vencedor é, na essência, um perdedor que tentou mais uma vez, uma mensagem poderosa para quem busca alcançar seus objetivos. E ainda destacou que, quando se tem sucesso, é preciso ainda mais determinação, trabalho e humildade para ouvir os outros, aprender e continuar a ter a mesma motivação para manter o sucesso. Com conhecimento e, até com lembrança do amargor de certas passagens, mostrou que é preciso ter mais ainda determinação para continuar ganhando depois que se chegou ao topo de algum certame ou carreira.

Outro ponto importante destacado foi a necessidade de não viver permanentemente ligados às redes sociais, pois elas muitas vezes distorcem a percepção da realidade. A mídia social, embora seja uma ferramenta de conexão, não deve substituir o esforço genuíno e a dedicação ao que realmente importa. O sucesso, afirmou Bernardinho, só é possível quando se desenvolvem bons hábitos, se mantém a persistência e se busca fazer aquilo que se gosta com paixão.

A motivação, concluiu, nasce do amor pelo que se faz, e é esta paixão que impulsiona a superação de obstáculos. Sua mensagem é um verdadeiro manual de vida para jovens e adultos, mostrando que o caminho do sucesso é trilhado com disciplina, dedicação e amor pelo que se faz. Uma palestra que certamente ficará marcada como um exemplo de determinação e resiliência para todos. Se antes já o considerava um exemplo relevante, agora, o tenho como um exemplo não apenas para empresários e líderes, mas, em especial, para os jovens de hoje em dia que, como ele falou, são diferentes, porém precisam de inspiração para buscar dentro de si as forças para fazer o que devem fazer. Bernardinho, como outros técnicos que são apontados por sua dureza na cobrança, faz, de fato, o que deve ser feito: buscar inspirar as pessoas a dar o máximo de si num trabalho em equipe. Quando encontro pessoas com esta forma de ser, que são grandes exemplos, passo a acreditar ainda mais que o Brasil tem jeito.

Ilustração: Na Prática.

sábado, maio 03, 2025

DESVENDANDO O AMANHÃ: O QUE RICARDO AMORIM NOS ENSINOU

 


No Fórum de Desenvolvimento Econômico de Rondônia, realizado nesta última terça-feira (29 de abril), o Governo de Rondônia marcou um gol ao encher o auditório do Teatro Palácio das Artes, em Porto Velho, para uma palestra do economista e consultor Ricardo Amorim. Foi um momento de reflexão sobre desenvolvimento e Amorim explica economia para qualquer leigo sem perder de vista a complexidade do cenário. Sua palestra demonstrou que o Brasil peca muito por não agregar valor aos produtos com o exemplo do café. E acentuou como a burocracia e os impostos são nocivos, hostis mesmo, ao ambiente de negócios. Acentuou que a reforma tributária irá destravar, daqui a anos, o crescimento do país, mas que os impostos continuam a ser um entrave ao desempenho econômico das empresas. Depois mostrou a irracionalidade  da falta de controle das contas públicas apontando que o país possui o maior gasto público e é o 2º mais endividado entre os emergentes. Para ressaltar que o relacionamento entre saúde fiscal e crescimento, daí o fiasco do crescimento brasileiro. Sem saúde fiscal o país encolhe e sua moeda perde valor. Mostrou também que a inflação é  responsável pelas taxas elevadas de juros e que as expectativas das MPEs têm deteriorado. Mas, apesar disto, nos últimos anos, o Brasil tem crescido acima das expectativas. Aqui, a análise dele, de que observando os dados dos últimos cem anos, o comportamento do crescimento brasileiro tem se dado por ciclos e injeção de recursos externos (o que concordo, pois o Brasil não possui poupança interna), daí a conclusão de que, não importa a ideologia do governo, como estamos num ciclo de crescimento, precisaremos fazer muita besteira para não crescer (o que temos feito, por sinal). E foi otimista por considerar o Brasil a bola da vez quase que por falta de opção. É uma visão muito correta e estimulante na medida em que Trump e a China ajudam o Brasil a crescer.  Interessante foi a leitura que fez a partir deste cenário sendo também muito otimista em relação à Rondônia, em especial pelo seu crescimento nos últimos dez anos, sua base agrícola, o crescimento dos serviços e o espaço para crescimento industrial, afora o mercado de trabalho. Quem conhece a economia de Rondônia não deixou de apreciar a leitura que fez para realizar sua palestra. Não sou tão otimista por causa da questão da infraestrutura, mas compartilho de sua visão da grande oportunidade que o momento representa. Em especial considero a cereja do bolo da palestra seu encerramento incitando os presentes a usar a Inteligência Artificial. E deu o exemplo do seu impacto no Ifood. De fato, como Ricardo Amorim acentuou, não usar a IA é como ter um trator à disposição e usar um arado. Nada mais preciso de que sua fala de precisarmos usar a IA como parceiros para pensar sobre tudo. Eu fiz isto para o título pedindo ao Chatbot para chamar atenção sobre a palestra de Amorim como se fosse Washington Olivetto.

quarta-feira, abril 30, 2025

O SUCESSO DO MOVIMENTO ANTI-PC

 


Há, agora, uma grande reação ao “politicamente correto” que, como não se pode desconhecer, está intimamente associado a um conjunto de normas sociais que pretendem evitar palavras e comportamentos que sejam considerados ofensivos ou discriminatórios. Há razões fundadas para isto, pois, o exemplo mais obvio é o de criticarem Monteiro Lobato por considerarem parte de sua obra infantil “racista” (qua!qua!) ou, outro exemplo absurdo, é de associar a Gilberto Freyre, um conservador, mas, reconhecidamente adepto da multirracionalidade, inclusive, de certa forma, seu livro é um elogio ao Brasil por sua miscigenação, de racista, anti-semita, xenófobo, machista e sei lá mais o quê. Vamos ser claros: Gilberto Freyre usa, e abusa, de adjetivos e de opiniões no seu livro (e ninguém é obrigado a concordar com elas), mas, enciclopédico como foi, escreve sobre quase tudo, de alimentação passando por agricultura e até mesmo genética, com tantas teses, dados e argumentos que seria impossível estar certo em todas. Como, porém, compreender o Brasil, e Portugal em parte, sem ler “Casa Grande & Senzala”? Pode-se acusá-lo de tudo menos de não ter escrito um livro importante e polêmico. Mas, pela ótica do politicamente correto, não muito diferente da inquisição, seus livros deveriam não ter sido escritos e, como foram, mereceriam a fogueira. E, no fundo é isto que faz com que o “politicamente correto” seja uma forma de totalitarismo. É, sem sombra de dúvidas, uma imposição de censura às ideias e aos comportamentos que limitam a liberdade de expressão. Mais do que isto, sob o argumento bom mocista de querer impor o que, supostamente, é bom, no fundo, existe a ideia de promover uma visão única, de homogeneizar o pensamento. É um ótimo instrumento para o controle social, de vez que todos os regimes totalitários desejam calar a voz dos opositores, seja impedindo suas falas, seja banindo a oposição, prendendo, acusando de “fake news” quem pensa diferente ou cancelando e, modernamente, retirando os meios de sobrevivência e até mesmo impedindo acesso às mídias sociais. A evidência moderna é a de que o “politicamente correto” tem servido muito para a manipulação do discurso público para moldar a percepção social (os anúncios politicamente corretos de hoje são peças toscas e, como diria o Falcão “Ó gente feia”) visando confirmar a narrativa dominante e usando, descaradamente, a demonização das divergências. Enfim, a intenção do politicamente correto de promover respeito e inclusão somente semeia controle, acirramento e ódio. Basta ver a perseguição feita aos humoristas que, hoje, fazem piadas com receio de ir para a cadeia. É como se, na vida real, não existisse preconceitos, rejeições, preferências, bondade, má intenção e mesquinhezes que, no fundo, representam quem somos e como ou quanto podemos melhorar.  Não será a nova fala, nem os eufemismos, redefinições ou invenções semânticas ou etimológicas que irão resolver as disputas humanas e suas diferenças ou aversões. Pode até parecer que resolvem, mas somente criam outras. O politicamente correto não é apenas autoritário. É sim uma manifestação do totalitarismo travestido de boas intenções.

 

domingo, março 30, 2025

O TRANSPORTE AÉREO PRECISA MUDAR DE MODELO


A GOL Linhas Aéreas divulgou que teve um prejuízo de R$ 6,07 bilhões em 2024, quase 5 vezes maior que em 2023, fruto da desvalorização cambial, do aumento de despesas financeiras e dos custos operacionais. Não é um fato isolado, pois a Azul, mesmo transportando 30,8 milhões de passageiros, uma alta anual de 5,4%, também reportou prejuízos, no ano de 2024, de R$ 8,2 bilhões. Como não sou um especialista em aviação, mas um curioso, sempre tenho me valido do conhecimento do meu colega de profissão, o professor Lucio Morais, da UNIR, Universidade de Rondônia, que me abastece de informações sobre o tema.

E foi através dele que soube que, no mundo, a desregulação do transporte aéreo (airline deregulation) ocasionou um crescimento de 1980, quando havia 640 milhões de passageiros, para, em 2019, existirem, voando pelo mundo, 4,46 bilhões, ou seja, quase 4 bilhões de passageiros incluídos no mercado em quatro décadas. Este é um dos problemas do Brasil: apesar de ter começado um processo semelhante, nos anos 2000,  com flexibilização da regulação de preços das passagens aéreas domésticas, criado um regulador civil ,com a criação da Lei da Anac, em 2005, e , antes do final da década, ter feito a flexibilização da regulação de preços das passagens aéreas internacionais, no entanto, apesar de outras medidas pontuais, o processo nunca foi concluído, de forma que continuamos a ter uma aviação muito mais regulada que  os EUA e Europa. Um dos problemas disto é que não existe, no Brasil, o mercado de transporte aéreo conhecido, no mundo, como low-cost (baixo custo), cujo surgimento foi um dos melhores resultados da desregulamentação. Esta inovação, no mundo, massificou o transporte aéreo. Em 2019 a participação de mercado das empresas de baixo custo foi de 44,5% na Europa, 35% na América do Norte e 32,5% na Ásia. E no Brasil ainda não chegou. Não há dúvida nenhuma de que são as falhas do governo que impedem sua existência e a consolidação da desregulação econômica do transporte aéreo no Brasil. Mesmo para um analista, sem tanto conhecimento, não existe um mercado de empresas aéreas low-cost por falhas do governo, legislações, regras ou práticas de (múltiplos) governos (incluindo Executivo, Congresso e Judiciário) que produzem custos mais altos e enorme insegurança jurídica e econômica na aviação. E o que temos tentado mudar esbarra sempre em problemas governamentais, como, por exemplo, a aviação regional. É uma constatação frustrante, mas não há para onde correr: as soluções dependem basicamente do poder público. Nós, aqui da Amazônia, do Norte sentimos mais do que outras regiões os problemas e os custos da aviação, porém não será possível mudar este panorama, que implica, em termos de país, que somente cerca de 16% das pessoas, com toda a facilidade de crédito, tenha acesso ao transporte aéreo, sem uma mudança das regras. São elas que causam prejuízo para a aviação existente e restringem seu enorme potencial de crescimento.  E a regulação que produz custos mais altos e enorme insegurança jurídica e econômica para as empresas, inclusive com judicializações completamente desnecessárias. A inevitável e indispensável conclusão é de que precisamos avançar urgente na desregulamentação do mercado de aviação para criar um mercado estável, consolidado e com concorrência para atender a enorme demanda contida do transporte aéreo.


quinta-feira, março 06, 2025

O SUCESSO DO DIA DO CONSUMIDOR

 


Criado pelo então presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, para ressaltar que os consumidores tinham direito à segurança, informação e liberdade de expressão, como Dia Mundial dos Direitos do Consumidor comemorado, pela primeira vez, em 15 de março de 1962, a data provocou debates e estudos tornando-se um marco na defesa dos direitos dos consumidores. No Brasil, porém, isto aconteceu muito tempo depois e a comemoração se centrou mais em ações promocionais com foco nos clientes e se consolidou somente em 2014, muito por conta da iniciativa do comparador de preços Buscapé. Esta consolidação ocorreu em virtude da campanha que instituiu a data em parceria com mais de 500 empresas de e-commerce que atuavam nacionalmente, como Walmart, Americanas, Netshoes, Centauro, Dell e outras varejistas digitais que se engajaram na celebração no país.

O Dia do Consumidor, todavia no nosso país tem suas peculiaridades, pois além de ser voltado para celebrar os direitos dos clientes, também é uma ocasião para as empresas empregarem boas práticas no relacionamento com os clientes, bem como realizar campanhas com o objetivo de melhorar o engajamento do seu público buscando idealizá-los. Também, o que muitas empresas estão fazendo, é não se restringir apenas ao dia e sim dedicar uma semana inteira a oferecer ações e ofertas que podem contribuir para movimentar os seus negócios. No bom sentido, assim como aconteceu com a Black Friday, o que procuram é aproveitar uma data para criar uma estratégia de relacionamento e vendas. Muitas prepararam sob a denominação de “Semana do Consumidor” eventos, promoções e preços especiais para fidelizar os seus clientes e capturar novos clientes.  

Cada empresa tem suas características, seus planos de marketing e formas de relacionamento com seu público, mas é crescente o interesse que está despertando o Dia do Consumidor, que acontece no dia 15 de março, e está se tornando uma data tão relevante para o varejo que o Google já o considera uma das grandes datas do primeiro trimestre. E são tantas as ações promovidas, em termos de Brasil pelas empresas, que, com certeza, o Dia do Consumidor já se tornou parte do calendário de compras, e, cada vez mais,  os consumidores  estão tomando conhecimento da data e  se preparando para  as promoções e as oportunidades. Neste sentido o varejista que, atualmente, não se preparar para o Dia do Consumidor perde as chances de surfar numa nova brecha que pode ser um excelente momento para aumentar sua clientela e o faturamento. Quem tem utilizado muito bem a data são as empresas de e-commerce que andam aderindo e investindo forte na sua celebração. E isto tem se refletido claramente num aumento de mais de 90% nas buscas, no mês de março, do termo “Dia do Consumidor”, em relação à 2024, segundo o Google Trends, o que demonstra que a data vai se consolidar, efetivamente, como uma das melhores datas do comércio no primeiro trimestre do ano.

segunda-feira, fevereiro 24, 2025

ALÉM DA SUPERFÍCIE DO AMBIENTE DE NEGÓCIOS

 


Segundo o Sebrae, em 2024, no Brasil foram abertos 4.141.455 novos negócios, o que representa 9,9% de crescimento em relação ao ano anterior. Este resultado, sem uma análise, parece ser excepcional e indicar que a economia brasileira passa por um momento ímpar e que as políticas governamentais estimulam o empreendedorismo. Ledo engano. Se formos examinar atentamente o primeiro sinal que desmancha este olhar superficial é a constatação de que, nada mais, nada menos, que 2.100.000 negócios fecharam suas portas, o que representa 50,5% dos novos negócios. No setor varejista é pior ainda: para cada 10 novos negócios 6 fecharam suas portas, o que mostra que o ambiente de negócios está longe de ser favorável e em expansão. E, é preciso assinalar, que dos novos negócios 3,1 milhões foram Microempreendedores Individuais (MEIs, 74,4%) e 874,1 mil (21%), microempresas, ou seja, os novos negócios que surgem são predominantes pequenos, de uma faixa com pouco capital e alta mortalidade. Ainda mais o saldo líquido anual das empresas revela uma tendência preocupante quando examinado no atual governo Lula da Silva, pois, em 2022, foi de 778.749 empresas, caindo para 642.184 em 2023, e, em 2024, declinando para 628.554. Esta progressão, no governo atual, torna muito discutível as políticas atuais de estímulo ao comércio e ao empreendedorismo pelo resultado ser inferior ao último ano do governo Bolsonaro, principalmente levando em conta que este enfrentou uma pandemia. É difícil, portanto, defender a eficácia das políticas atuais em relação ao setor empresarial. Isto, aliás, se reflete nas queixas do empresariado que alegam que os problemas aumentaram no atual governo por conta de impostos, de alterações na legislação, aumento dos combustíveis, juros mais altos, problemas de câmbio e de inflação. Em suma: o ambiente de negócios ficou mais hostil do que era. Por conta, principalmente de uma carga tributária mais alta, de aumento da burocracia, da insegurança jurídica, que aumentou muito, embora o governo alegue que facilitou mais a abertura de empresas, efetivamente, no conjunto pioraram muito as condições estruturais para que as empresas passem da fase de abertura e sobrevivam ao longo do tempo. Pelo menos no que tange aos negócios a grande realidade que o problema não é de comunicação. Os publicitários oficiais têm se esforçado em promover fatos e números positivos, a imprensa também ajuda (e até esconde os negativos), porém a economia é uma ciência triste porque, no final, sempre o que importam são os índices, os números e, em particular, para as empresas e pessoas o impacto que sentem no bolso. É isto que separa a visão otimista que o governo tenta vender, via publicidade oficial, de quem tem ou abre um negócio e tenta sobreviver e progredir: não há um caminho onde não esbarre com o estado impondo dificuldades e ônus para os que produzem e desejam criar um negócio sustentável. Até mesmo quem mais ganha com os juros altos, o mercado financeiro, reclama do governo por sentir que o ambiente de negócios não é nada favorável para a economia real.

sexta-feira, fevereiro 14, 2025

GENTE DE OPINIÃO: UMA TRAJETÓRIA DE SUCESSO

 


De repente são 20 anos. De repente? Não, pois a história de sucesso do Gente de Opinião é uma trajetória que envolve muitas pessoas, muitas notícias, muito trabalho. Gente de Opinião, aliás, começou de uma forma singular: reuniu alguns jornalistas que participaram de um programa de TV, que teve curta duração com o mesmo nome. O que ficou alimentado por reuniões entre amigos na casa de Paulo Corrêa, redator por anos do Alto Madeira, entre outras atividades, foi a ideia muito democrática de dar voz as vozes dissonantes. Ao contrário de querer moldar a opinião das pessoas o Gente de Opinião surgiu da ideia de permitir o debate, as opiniões diferentes para que o leitor forme sua opinião. Esta base forte é o que gerou sua credibilidade e persistência. É claro que isto não seria possível sem o respeito irrestrito aos que escrevem, ou seja, o site, em momento algum, tolheu ou interferiu no que seus colunistas escrevem assim como procura divulgar as notícias sem pretender impor um ponto de vista. O ponto de vista quem deve ter é o leitor ou o colunista. Por esta posição é que conseguiu reunir em torno de si tantos e tão diversas personalidades de nossa imprensa e de nossa intelectualidade.

Nomes como os de Abnael Machado, Antônio Candido, Antônio Fonseca, Ciro Pinheiro, Carlos Henrique Angelo, Dante Fonseca, Francisco Matias, Leo Ladeia, Lucio Albuquerque, Marli Gonçalves, Orlando Jr., Osmar Silva, Paulo Saldanha, Robson Oliveira, Sandra e Samuel Castiel, Vinicius Carrilho, Silvio Santos, Viriato Moura e Yêdda Borzacov são exemplos, entre tantos outros, da diversidade, do ecletismo de temas e de opiniões que desfilaram pelo site Gente de Opinião nos seus anos de existência. Mas, há muito mais a ser dito e muito mais foi visto. Basta verificar que o canal de Youtube do site possui mais de 32 mil seguidores, afora o fato de que tem sido mantida durante todo este tempo uma parceria que assegura muito maior difusão e reconhecimento com o grupo SIC do jornalista Everton Leoni. É preciso também dizer que, além de tudo, o site tem sido um repositório de nossa história ao mante, e de tempos em tempos, recuperar palavras e fatos do passado seja por remeter a um vídeo ou notícia antiga, seja por manter a coluna de personalidades que participaram da construção do nosso Estado ou registraram suas opiniões em colunas. Neste sentido o Gente de Opinião possui um rico acervo que é fruto de um trabalho constante de acompanhar a vida e o cotidiano de nossa cidade e de nosso Estado, daí ser uma das principais fontes de pesquisa sobre a história de Rondônia. O maior legado, porém dos 20 anos do Gente de Opinião é o de informar sem fronteiras. Assim possui colunistas de todas as partes do país e abre seu espaço seja para leigos, seja para a comunidade acadêmica com a mesma generosidade e o objetivo único de informar. O que importa para o Gente de Opinião é dar informações a quem procura. É mostrar que a notícia importa e a grande protagonista de quem procura formar sua opinião. Viva os 20 anos do Gente de Opinião. Trazendo notícias e fazendo história.

quinta-feira, janeiro 23, 2025

REVOGAR AS NORMAS FOI UMA DECISÃO ESTRATÉGICA

 


Embora grande parte do próprio governo trate a revogação das novas normas da Receita Federal como uma derrota, de fato, não é. A revogação foi a minimização de um grave erro político e econômico. Não se justifica nem mesmo pela necessidade de caixa na medida em que não houve nenhuma avaliação dos efeitos econômicos terrivelmente fortes da medida. Não se trata, como tentaram dizer, de fakes em relação à taxação do Pix, mas sim que a medida, além de invadir fortemente a privacidade das pessoas, somente se justifica como uma forma de fiscalização quase total dos atos econômicos. Claro que é uma tentativa de minimizar a sonegação, mas num ambiente de diminuição da atividade econômica e de aumento da carga tributária com inflação, se trata, na prática, de uma forma de, no presente, dificultar a vida das pessoas e, no futuro, aumentar receita, pois a movimentação financeira de qualquer empresa ou cidadão sempre será muito acima de seus rendimentos. No mínimo, se teria que explicar o que, hoje, não é necessário, ou seja, de qualquer forma é o governo obrigando o cidadão a fazer o que não quer e, pior, não em virtude de lei, mas por força de normas feitas por burocratas, o que, aliás, acontece demais no nosso país. A alegação de que a medida permitiria a identificação de movimentações suspeitas e o combate a fraudes, embora verdadeira, com os valores baixos com que foi editada, porém iria permitir à Receita Federal cruzar dados e fiscalizar pessoas físicas ou jurídicas de empresas e famílias com rendas muito pequenas. Assim seria um novo instrumento fiscal potencialmente prejudicial à população de baixa renda, especialmente à grande parcela de trabalhadores que vivem na informalidade. Por mais esforços que o Governo e a Receita Federal tenham feito de comunicação os trabalhadores sentiram que seriam prejudicados, daí a grande pressão popular. Os informais de áreas como cabeleireiros, manicures, pipoqueiros, vendedores ambulantes, garçons, motoristas de aplicativos, diaristas e até flanelinhas entre tantos outros, perceberam que se o monitoramento fosse adiante, a solução era abandonar o Pix, que facilitou a vida deles, e voltar a solicitar pagamento em dinheiro. Um imenso retrocesso. Nenhum argumento seria capaz de justificar ou tornar palatável uma medida tão impopular. O governo teve que voltar atrás ainda que, para salvaguardar a pele, argumentando que irá fazer uma medida provisória. Se fizer irá desencadear outro tsunami. Não é uma questão de política. É uma questão econômica que, seguramente, não cria impostos, mas cria dificuldades e a possibilidade de cobrança posterior de multas e impostos. O governo, acredito até que orientado pelo novo gestor da comunicação, de olho em 2026, tomou uma decisão estratégica. O desgaste de um tipo de medida desta seria, e será se retomada, muito grande, especialmente porque, efetivamente, atinge os pequenos empreendedores e os mais pobres. Não há comunicação possível capaz de esconder o que dói no bolso.

 

NOVAS REGRAS SUFOCAM O SETOR INFORMAL

 


As novas regras da Receita Federal, por mais que tentem dizer o contrário, se destinam a arrecadar mais. Nenhum analista que se preze dirá o contrário. É um aperto- é dos grandes- sobre o setor informal, em especial os micro negócios e profissionais liberais. O maior problema é que, além de mexer com os setores mais pobres da sociedade, incomoda todo mundo e, no limite, invade a vida particular das pessoas. Quem, por exemplo, dividir despesas, jogar em conjunto, tiver atividades sociais em que recebe dinheiro alheio ou até tiver uma amante está sujeito a ter sua vida devassada. Por mais que se tente, com publicidade ou declarações de autoridade, imputar as Fake News as repercussões negativas, há o fato incontestável que o estado aumenta sua lupa sobre os recursos privados de uma forma quase total. Ao, praticamente, invadir todos os espaços econômicos, o governo passa a ter um controle sobre a vida das pessoas que jamais teve. Acompanhar toda a movimentação financeira das pessoas não é a mesma coisa que taxar apenas a renda, pois há relações sociais, inclusive de quem já pagou imposto de renda, que são informais e não se justifica o governo, a partir do montante que a pessoa movimenta, exigir explicações que ninguém quer dar. Quem não se sente ruim em todo movimento que fizer ter que explicar? Muitas vezes divórcios acontecem por causa similar.  Além do mais, em especial nos negócios informais, grande parte do que se movimenta não é renda e sim insumos ou algum tipo de necessidade que o informal possui para ganhar dinheiro. A verdade que, em geral, esta renda de grande parte deles, não é renda e também, mesmo o que é, não é taxada. Mas, convenhamos, taxar pipoqueiros ou moto boys, embora vá acrescentar recursos ao governo, implica em tornar uma vida que já é difícil mais difícil ainda. Há sim clandestinidade nestes ganhos e somada é significativa, porém, convenhamos, se taxados o custo de seus trabalhos será muito maior, com impactos significativos, na inflação e com um problema adicional: os mais pobres não possuem, na sua quase totalidade, um acompanhamento de seus negócios. Muitos nem sabem quanto movimentam e serão a essas pessoas que, no fim do ano, serão apresentadas contas que não terão como explicar nem saber como enfrentar a questão. O que sempre se espera de um governo, ainda mais de um que, supostamente, é voltado para o social, é que não dificulte a vida das pessoas e é isto que o governo está fazendo com sua voracidade fiscal. Não há estratégia de comunicação capaz de esconder o que dói no bolso e vai doer em especial sobre os informais que serão detectados e cobrados por recursos que não terão: a grande maioria se vira para sobreviver. Afora outros impactos colaterais como gastos com contadores ou perda de ajudas sociais. A vida de grande parte da população mais pobre não ficará apenas mais complexa e sim muito mais difícil. O estado, de fato, não somente atrapalha a vida do microempreendedor somente. Com as novas medidas o irá impedir de ter a possibilidade de se capitalizar, de ascender socialmente. É uma medida que, se não for revogada, irá corroer, com certeza, o que ainda resta de credibilidade do governo federal.