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domingo, agosto 14, 2005

A Trágica Farsa da Esperança

Nunca, na história de nosso país, um discurso foi tão silencioso. Terminados, os 9 minutos em que Lula da Silva falou, espremidas suas palavras, havia um suculento gosto de nada. Não dá nem para dizer o que faltou à sua fala. Faltou sangue, substância, coragem, verdade e até ser mais arrojado em defesa própria e de seu governo. Não foi apenas pouco, “insuficiente”, como disse Tarso Genro, ou “insatisfatório”, como disse o senador Suplicy, ou ainda “pífio” , como acusou Arthur Virgilio, foi, para ser claro, vergonhoso.
Como pode um presidente, numa crise ética e moral, ir prestar esclarecimentos que nada esclarecem? Aliás, demonstram sua absoluta incapacidade de reconhecer claramente os erros que cometeu, bem como dar nomes aos bois. E fica se procurando quem disse, dias atrás, que perderia votos, mas não perderia a vergonha na cara. Sua dificuldade de tocar no assunto só foi menor do que seu desconforto visível no fato de não ter sequer a coragem de encarar as câmaras, ou seja, confirmou a suposição geral de que apenas recitava um discurso de ocasião, sem convicção, sem vontade e sem sinceridade. O que deixou transparecer foi à imagem de um ator que não acredita mais na peça na tentativa inútil de salvar o espetáculo ruim.
Um exame do discurso mostra, que até o próprio texto colaborava para o bisonho desempenho. O auto-elogio a um governo que se caracteriza pela inação e omissão ocupou metade do tempo. E, só no final, surge o verdadeiro motivo do discurso: o imenso lodaçal que só agora enxergou. Só agora abriu os olhos para a incomparável roubalheira, a imensa rede de desatinos, de desmandos, de locupletação do erário público. Incrível que, só agora, quando a lama ameaça ultrapassar a cabeça, comece a sentir o mau cheiro do PT, da gangue que o cercou e dirigia os destinos do país. Só agora Branca de Neve acordou. Porém é tarde. O sapo jamais voltará a ser príncipe. Seu destino é permanecer e chafurdar na lama, digo lagoa. E não há nem um beijo salvador. Duda Mendonça que havia feito a plástica, agora, surge também para acabar com a própria obra, para salvar o pescoço, temeroso de se transformar num novo Marcos Valério.
Tristemente se constata que o autoproclamado mais ético dos governantes se finge de bobo, de pateta, para tentar afastar a crise. Mas, ao se aceitar sua versão, não há como não bater na sua testa o carimbo de desinformado e, por desdobramento, considerá-lo o que negava ser: o mais despreparado dos nossos presidentes. De qualquer forma o resumo da opera não é propriamente digno de figurar no rol dos grandes espetáculos. No fundo somente pode aspirar a ser uma farsa burlesca a ser encenada em teatros de segunda categoria. Pobre Brasil cuja esperança morre sempre na janela de medo ou de falta de vergonha.

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