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segunda-feira, agosto 01, 2005

A Ética nas Empresas

Há, entre os economistas e cientistas sociais, a convicção de que o aumento do estado, e por conseqüência o aumento da burocracia, gera corrupção e impede a economia de estimular um ambiente adequado ao empreendedorismo, ou seja, quanto mais estado mais obstáculos à iniciativa privada e mais corrupção. No entanto, como agora vemos no caso do “Mensalão”, isto não quer dizer que o setor privado prime pela ética. Impossível não constatar que no meio dos escândalos públicos há sempre as impressões digitais de empresas privadas. E, por mais que venham sendo criados mecanismos para reforçar o comportamento social e ético das empresas, não se pode esconder que, no cotidiano, na maioria das vezes, estão envolvidas grandes empresas, empresas que faturam milhões e preferem investir recursos em propinas e em campanhas eleitorais a desenvolver melhorias em inovação e aumento da produtividade.
No Brasil, onde os mecanismos de acompanhamento e punição de tais práticas são frouxos, há empresas, como ficou patente com as de Marcos Valério, que crescem numa rápidez impressionante graças as suas ligações políticas. Esta a razão pela qual numa pesquisa realizada, em 2000, pelo Instituto Ethos, especializado em responsabilidade social, todas as 442 empresas consultadas responderam os questionários se autoavaliando, em termos de ética nas suas práticas, com notas abaixo de 5, numa pesquisa com notas no máximo de 10, numa evidente confissão de que suas relações com seu público não se pautam propriamente pela ética.
O problema parece ser que, quando se alcança um determinado tamanho, é impossível não se entrar em guerra por espaços comerciais nos quais, em geral, o estado possui uma participação relevante seja como comprador, seja como concessionário ou meramente como facilitador de certas questões. Daí é um passo para que se estabeleça algum tipo de relação que acaba sendo espúria. Segundo o diretor executivo da Transparência Brasil, Cláudio Weber Abramo, de todas as empresas que participam de licitações no país, em pesquisa realizada pela ONG, 62% receberam pedidos de propinas ou outros tipos de pagamentos para conquistar contratos. Ou seja, quando se fala em corrupção é impossível dissociar o público do privado. A visão que se tem de que o setor público é muito mais corrompido vem de que, em geral, os processos atingem os gestores de recursos públicos que são, imediatamente, execrados publicamente sem que se dê maior atenção aos corruptores. Como ensina Abramo: “O setor privado sempre tem mais força para se manter distante dos escândalos, em geral as estratégias de investigação evitam agredir as empresas, são questões táticas”. A recente exposição das conexões do publicitário Marcos Valério com o Partido dos Trabalhadores tem de incomum uma mistura entre o público e o privado que inverteu os tramites normais de investigação: não se sabe ao certo o que é público ou privado. O episódio, no entanto, é uma lição para empresas que abandonam as boas práticas e entram no canto de sereia dos políticos na busca de enriquecimento fácil. È impossível passar pela lama sem se sujar ou, como no caso atual, se atolar nela. Mostra também que é indispensável criar mecanismos e controles éticos na gestão do próprio negócio até para evitar as tentações. Afinal se, no mundo dos negócios, os santos não prosperam, não se deve dar espaço para ultrapassar limites que põem em risco o próprio nome e patrimônio duramente construído.

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