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quinta-feira, setembro 22, 2005

O SILÊNCIO É UMA FORMA DE PODER


O Discurso Imperial
A professora Marilena Chauí, a quem não se pode negar o brilho de uma inteligência sutil, possui uma lógica toda particular e digna de estudos. Principalmente depois de ter ficado tanto tempo calada diante da partidarização da máquina pública, da sindicalização do governo e da corrupção sistêmica seguida de assalto aos cofres públicos patrocinada por Dirceu, Genoíno, Delúbio & outros inocentes, agora, explica, em carta aos seus alunos, que nunca esteve calada. E aponta o culpado: a mídia. Aí, há de se convir, sem muita originalidade.
Original, sem dúvida, é sua capacidade de reconstituição histórica. Somente pinça, convenientemente, os fatos que podem sustentar sua tese de que Lulla e o PT são estigmatizados pela mídia quando nenhum outro partido teve tanto espaço nem foi menos questionado em suas práticas. Ela, todavia só enxerga o fato iniludível de que Lulla da Silva, por não gostar de ler e de estudar, conforme comprovado pela prática, foi sempre acusado de ser despreparado para o cargo de presidente da República. Incompreensíveis não são as críticas que foram feitas, mas a falta de estruturas políticas que permitam isto e a omissão da mídia em relação aos “erros” que os companheiros já apresentavam ao longo do tempo.
No entanto a professora, como de resto uma enorme ala do PT, ou por cegueira ideológica ou por incapacidade de lidar com o real, apesar de afirmar que sempre esteve “consciente dos limites” dos meios de comunicação que, para ela, é “um campo público de direitos regidos por campos de interesses privados” (o que se pode dizer de qualquer campo, aliás, inclusive o próprio estado), não via nenhum problema nisto quando a mídia ajudava o PT a ser majoritário, agora, porém, quando seu partido fez do setor público um campo de interesse e da corrupção privada relembra, no melhor estilo delubiano, que, num artigo do ano passado, quando explodiu o caso Waldomiro já havia prescrito da solução maravilhosa: a reforma política!
E, num trabalho teórico maravilhoso, termina por se considerar “a vitima” da mídia (mídia, por certo, é uma abstração pouco digna se considerada como um conjunto). No fim traça seu auto-retrato: uma mulher, intelectual, petista que, para seu próprio espanto, se tornou uma torturada pela imprensa que quer, de qualquer forma, arrancar palavras de uma pobre professora que somente desejava falar quando conveniente. Neste sentido bastante coerente com o comportamento de Lulla da Silva que fez o possível para criar uma imprensa domesticada, cândida e servil seja centralizando verbas seja tentando criar mecanismos legais de coerção ou só permitindo acesso aos cordeirinhos que repetissem o discurso encomendado.
Espantoso, de fato, é que uma intelectual, uma pensadora adote o silêncio quando se precisam de vozes que esclareçam e guiem, inclusive seu próprio partido, num momento de confusão e escuridão. Se bem que fica evidente que seu foco é Spinoza, que não gosta de pensar sobre o real, pois até ao escolher o título de um ciclo de conferências não refletiu sobre o futuro e ainda culpa a imprensa por fazer uma correlação tão óbvia quanto ligar Pinochio com as mentiras da cúpula petista. E não há dúvida que dá a mínima para contradições na medida em que, como figura pública, o seu “Não falo”, por si só, já equivale a um discurso. E um discurso imperial. Afinal somente quem tem poder pode se dar ao luxo do silêncio.

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