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terça-feira, junho 14, 2005

NOS TEMPOS DA IRONIA

Um dos mais singulares pensadores da atualidade é o sociólogo francês Henry-Pierre Jeudy. Sua originalidade consiste em afirmar que “O problema, hoje, é a perda da crença no ato de crer”. Isto pode parecer meio enigmático, porém se esclarece quando escreve que a ironia se transformou no traço principal da nossa época. Não, segundo Jeudy, a ironia individual, a ironia do indivíduo que, limitada, é “subjetiva”. É a ironia “objetiva”, a proveniente dos fatos que desmente os discursos sociais, especialmente o político. Em suas palavras “A própria realidade inflige, em certas circunstâncias, uma espécie de desmentido as crenças. Há reviravoltas que produzem efeitos caricaturais sobre as declarações feitas por políticos de tal maneira que ocorre, na realidade, o contrário do que eles dizem”. Fantástico mesmo!
Como se sabe Sócrates e Voltaire usaram a ironia. Eram, no entanto comportamentos individuais onde a dissociação entre a ação e o discurso tinha uma intenção, um sentido educativo, o de mostrar a ilogicidade de comportamentos ou situações. A dificuldade, nos tempos ditos pós-modernos, é a de que a ironia “objetiva” desmente as falas sociais, termina por desacreditar o sujeito e o discurso e introduzir a descrença sobre toda a sociedade. Torna-se, portanto um comportamento não planejado e deletério que começa por desmoralizar os atores sociais. No pensamento de Jeudy isto se dá porquê a política, que deveria ser o meio de resolver os problemas, se tornou uma prisioneira da economia. Daí que “Os políticos se tornaram marionetes do mercado. Agem, cotidianamente, como bufões, segundo as linhas e diretrizes escolhidas para fazer com que se acredite em seu próprio poder. No entanto, praticamente, não há resistência política diante do poder econômico”.
É, por tal razão, que afirma que “Os políticos se tornaram verdadeiros fantoches. Estão no poder para nos fazer engolir a pílula, ou seja, para fazer com que aceitemos as condições sociais do mercado”. Assim, podemos pensar, que os atores devem ser melhores dirigentes ou que tanto faz um sociólogo ou um torneiro mecânico. Não fará diferença, portanto ter depois um locutor uma dona de casa ou depois de um advogado um bananeiro. O comportamento será, mais ou menos, igual. Pura ironia.

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