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domingo, junho 26, 2005

A Ideologia como Ciência

As práticas modernas tem sua origem na taxonomia, na classificação, no inventário e nas estatísticas. Não há como conhecer o mundo, e manipulá-lo, sem começar por delimitar os objetos, ou seja, toda ciência começa na definição, especificar o que a coisa é. O trabalho científico de explicar o mundo se inicia, logicamente, por classificar para, só depois, criar relações e explicar como as diversas partes da realidade funcionam. Nem sempre esta é uma tarefa fácil, daí Descartes ter escrito, na terceira das suas regras para a direção do Espírito, que “É mais provável que a verdade seja descoberta por poucos que por muitos”.
Esta tarefa se torna muito mais difícil, no mundo atual, em face de que a classificação, o ato de nomear se encontra com uma barreira inteiramente nova que é a da ambigüidade das palavras. No passado a ordem, mesmo que mais interrompida por atos violentos, não permitia a ambigüidade, ou seja, o branco era branco e o preto era preto. Hoje, embora os sistemas políticos sejam mais consistentes, as palavras se tornaram menos consensuais. O significado, por exemplo, de aparelhamento ou de república não é o mesmo para diferentes grupos políticos. A modernidade fragmentou o mundo e também a classificação resultando em que a disputa política passa também pelo significado do discurso e, quem está no poder, quer impor seu discurso mesmo quando este contrária os fatos.
A ironia da situação consiste em que a ciência se desenvolveu ao se fragmentar, que toda ciência que antes era referida pela filosofia, agora, depende da política, porem esta que deveria ser a fonte de solução dos problemas é uma triste refém da economia. Neste sentido, como em tudo o que é social, até mesmo a classificação e a ciência são dependentes da utilidade. Não há mais verdade. Há o que funciona e o que não funciona. E isto, muitas vezes, nada tem a haver com a ciência. É muito mais uma questão de interesses e de capacidade, inclusive midíatica, de fazer um discurso predominante.

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