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segunda-feira, julho 25, 2005

A Blindagem de Lula

Faz mais de dez semanas que o governo Lula da Silva enfrenta um bombardeio crescente que o minou sob o ponto de vista ético, moral e político. Não bastasse isto o país assistiu estarrecido, na semana passada, dois depoimentos, o de Silvio Pereira e Delúbio Soares, que não irritaram apenas os parlamentares, pelo primarismo e grau de evasão, como se constituiu em verdadeiro acinte aos brasileiros, de uma forma geral, e aos mais escolarizados, em particular com a incrível versão dos empréstimos. Qualquer outro dirigente, em uma situação menos constrangedora, já estaria sendo pressionado e/ou a caminho do impeachment. Por que isto não ocorre com Lula da Silva?
A resposta possui vários níveis. Nenhum tem a haver com a sua suposta trajetória ou popularidade, que foi seriamente abalada com sua arrogante postura de se considerar a vestal entre as vestais-o que ninguém acredita. O fato mais significativo para a surpreendente manutenção de Lula consiste em que, por um lado, existe um colchão de entidades supostamente de esquerda (e que fazem barulho e confusão) que estão muito bem obrigado graças ao governo atual. E, por outro lado, os grandes banqueiros e empresários jamais tiveram um presidente tão bom de ser levado no bico, tão propício aos seus projetos, tão adequado ao grande capital. Quem está contrariado com Lula são os funcionários públicos, a classe média que vem sumindo cada vez mais e uma parte dos pobres que não recebem o assistencialismo explícito que vem sendo feito à guisa de política social, ou seja, a rigor os que chiam, mas não possuem organização nem peso para fazer uma pressão real.
E a oposição? Esta, embora bata em Lula, reza para, apesar das imensas evidências, não se consiga estabelecer um nexo palpável entre o presidente e a crise atual. Pesa para isto a boa fase da economia (aparentemente não contaminada) e os possíveis problemas de um risco institucional, mas, acima de tudo, as conhecidas posições de José Alencar, o vice, que consideram pode, se ocorrer uma transição pacífica, tomar medidas econômicas que desorganizem completamente a economia nacional. Lula da Silva, por incrível que pareça, é um candidato forte para não cair e fraco o suficiente para que todos rezem para que venha a permanecer e enterrar seu passado e seu partido. É uma blindagem, no mínimo, curiosa. Lembra Marx: a repetição de um mesmo episódio, na história, como farsa.

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