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segunda-feira, agosto 29, 2005

MARX E A CRISE BRASILEIRA

Embora Marx tenha sido um pensador do século XIX em muitos pontos, sem dúvida, foi um homem além do seu tempo. Entre suas geniais premonições, que julgava ser ciência por ter alguns indícios que abalizavam sua opinião, ficaria, certamente, deliciado com o governo Lula da Silva (que não hesitaria em chamar de direita deslavada) como uma farsa, como repetição histórica do governo Collor de Mello. Há, no entanto pontos nos quais quedaria perplexo e, com certeza, teria que repensar muito do que disse. Por exemplo, é de sua lavra o seguinte texto explicando o seu método: “Minha investigação desembocou no seguinte resultado: relações jurídicas, tais como formas do estado, não podem ser compreendidas nem a partir de si mesmas, nem a partir do assim chamado desenvolvimento geral do espírito humano, mas, pelo contrário, elas se enraízam nas relações materiais de vida, cuja totalidade foi resumida por Hegel sob o nome de ‘sociedade civil’, segundo os ingleses e os franceses do século XVIII, mas que a anatomia da sociedade burguesa deve ser procurada na Economia Política”. Bem, de fato, hoje, a economia sustenta a fantasia da sociedade brasileira, porém como é possível explicar que um presidente sem a mínima condição mais permaneça intocável? Claro que a explicação é política. Marx quebraria a cabeça para explicar o surrealismo de nosso país. Ou chegaria a conclusão que a economia, como fonte de explicação tem suas grandes limitações ou faria, como muitos intelectuais sempre fizeram quando entender exige esforço: ou enterram o pescoço na areia ou simplesmente creditam o problema aos trópicos. Afinal até boi voa ao sul do Equador.

sábado, agosto 20, 2005

NA PRÓPRIA PELE

As acusações do ex-assessor de Palocci, Rogério Buratti, por menos fé que mereçam, revela um aspecto inquietante da vida pública nacional: a de que, a rigor, o julgamento de autoridades políticas se processa, antes de qualquer investigação ou tribunal, na imprensa. Talvez isto não se se constitui um problema se a imprensa tivesse o zelo de checar as informações ou até mesmo silenciar sobre os casos em que a simples menção da autoridade implicasse em nodoas na sua reputação, como no caso atual do ministro da Fazenda. A questão e, isto é inegável, é que, com tanto escândalos, com tantas provas evidentes de corrupção e a negativa deslavada (e com defesas irracionais) tornam inócuas qualquer negativas, ou seja, há um clima no qual qualquer autoridade acusada já é, praticamente, culpada por antecipação. Em parte pela razão de que, recentemente, tudo que se negava existir era comprovado como existindo, logo em seguida, como tem sido na infindável novela do “Mensalão”. Neste caso atual, embora não se possa negar o indubitável trabalho que as promotorias tem realizado, a divulgação de acusações, durante um processo investigativo, cujas repercussões abalam inclusive a economia nacional não deixam de ser um excesso, uma necessidade dispensável de holofotes em cima da palavra de um delator premiado que, possivelmente, tem magoas do seu ex-chefe inclusive, como revelou de forma indireta, por este ter sustado a propina da G-Tech impossibilitando a mudança de contrato. Não se trata aqui de isentar Palocci de culpa, porém até agora os indícios são muito frágeis. Trata-se apenas de que só há a palavra de quem é reconhecidamente criminoso e que, como deixou claro, ao afirmar se sentir “abandonado” disposto a salvar o próprio pescoço a qualquer preço. Neste sentido não seria muito recomendável que se desse publicidade aos fatos antes de ter indícios mais concretos. Claro que a investigação não está sendo feita em sigilo, mas, independente de quem seja o acusado, as pessoas tem um nome a zelar e depois de expostas nos meios de comunicação reverter certas situações é muito complicado. Ou seja, divulgar notícias baseadas em suposições e indícios frágeis é linchar moralmente as pessoas antes de ter direito à defesa. Depois mesmo que inocente o escândalo da primeira página vira uma notinha de desculpas nas páginas intermediárias. Sou totalmente contra ao amordaçamento do Ministério Público, mas, como nem todos os seus membros possuem a maturidade de saber usar seus poderes, deveria haver uma maior discussão interna do que devem e não devem divulgar e não uma defesa corporativa dos seus membros que extrapolam na busca de seus quinze minutos de fama. O denuncismo é muito ruim mesmo quando correto. Assim deve-se investigar mais antes de divulgar algo que atinja a imagem das pessoas. O irônico da questão Palocci é que foi o PT que incentivou pessoas a agirem assim e, agora, sente as dores na própria pele.

domingo, agosto 14, 2005

A Trágica Farsa da Esperança

Nunca, na história de nosso país, um discurso foi tão silencioso. Terminados, os 9 minutos em que Lula da Silva falou, espremidas suas palavras, havia um suculento gosto de nada. Não dá nem para dizer o que faltou à sua fala. Faltou sangue, substância, coragem, verdade e até ser mais arrojado em defesa própria e de seu governo. Não foi apenas pouco, “insuficiente”, como disse Tarso Genro, ou “insatisfatório”, como disse o senador Suplicy, ou ainda “pífio” , como acusou Arthur Virgilio, foi, para ser claro, vergonhoso.
Como pode um presidente, numa crise ética e moral, ir prestar esclarecimentos que nada esclarecem? Aliás, demonstram sua absoluta incapacidade de reconhecer claramente os erros que cometeu, bem como dar nomes aos bois. E fica se procurando quem disse, dias atrás, que perderia votos, mas não perderia a vergonha na cara. Sua dificuldade de tocar no assunto só foi menor do que seu desconforto visível no fato de não ter sequer a coragem de encarar as câmaras, ou seja, confirmou a suposição geral de que apenas recitava um discurso de ocasião, sem convicção, sem vontade e sem sinceridade. O que deixou transparecer foi à imagem de um ator que não acredita mais na peça na tentativa inútil de salvar o espetáculo ruim.
Um exame do discurso mostra, que até o próprio texto colaborava para o bisonho desempenho. O auto-elogio a um governo que se caracteriza pela inação e omissão ocupou metade do tempo. E, só no final, surge o verdadeiro motivo do discurso: o imenso lodaçal que só agora enxergou. Só agora abriu os olhos para a incomparável roubalheira, a imensa rede de desatinos, de desmandos, de locupletação do erário público. Incrível que, só agora, quando a lama ameaça ultrapassar a cabeça, comece a sentir o mau cheiro do PT, da gangue que o cercou e dirigia os destinos do país. Só agora Branca de Neve acordou. Porém é tarde. O sapo jamais voltará a ser príncipe. Seu destino é permanecer e chafurdar na lama, digo lagoa. E não há nem um beijo salvador. Duda Mendonça que havia feito a plástica, agora, surge também para acabar com a própria obra, para salvar o pescoço, temeroso de se transformar num novo Marcos Valério.
Tristemente se constata que o autoproclamado mais ético dos governantes se finge de bobo, de pateta, para tentar afastar a crise. Mas, ao se aceitar sua versão, não há como não bater na sua testa o carimbo de desinformado e, por desdobramento, considerá-lo o que negava ser: o mais despreparado dos nossos presidentes. De qualquer forma o resumo da opera não é propriamente digno de figurar no rol dos grandes espetáculos. No fundo somente pode aspirar a ser uma farsa burlesca a ser encenada em teatros de segunda categoria. Pobre Brasil cuja esperança morre sempre na janela de medo ou de falta de vergonha.

quarta-feira, agosto 10, 2005

13 DE AGOSTO-DIA DO ECONOMISTA


Embora devido a sua amplitude, ao desconhecimento do público em geral e as dificuldades advindas de suas técnicas e do jargão dos seus profissionais ser economista é uma profissão que, ao longo do tempo, tende a ganhar cada vez mais espaço na sociedade. Isto se explica, principalmente porque se trata do estudo, por excelência, do funcionamento da sustentação de todo o arcabouço social, ou seja, o econômico trata, no seu cerne, de como os homens produzem seus meios de subsistência e de manutenção, de como transformam a natureza em bens e serviços para satisfazer suas necessidades. Nenhuma outra profissão concorre tanto para se ter uma noção ampla do funcionamento da sociedade, daí o economista aparecer como um profissional de profundo conhecimento teórico que, muitas vezes, se intromete na seara alheia, mas, por seus métodos, possui capacidade de tomar a melhor decisão, maior conhecimento do cenário de fundo e se destaca, quando capacitado, pela excelência em assessorias e consultorias. Neste sentido a amplitude do espaço do economista pode ser medido pelos campos em que atua: 1 –Análise e pesquisas da Conjutura Econômica;2- Elaboração de projetos de viabilidade econômica; 3- Arbitragem e perícia; 4- Consultoria em aquisição, incorporação e fusão de empresas; 5 - Diagnóstico, estudo e orientação econômica de empresas; 6 - Desenvolvimento e planejamento econômico;7 - Projetos e orientação Financeira;8- Mercado financeiro;10 – Assessoria de Projetos Agroindustriais/agrobusiness;11- Projetos de infra-estrutura;12- Comércio exterior;13 - Elaboração de estudos de merdcado;14 -Orçamentos públicos e comerciais;15-Marketing e Logística.
Esta é uma enumeração que mostra que o economista tem um mercado de trabalho bastante diversificado, inclusive em órgãos e empresas públicas ou privadas, de vários segmentos produtivos. A visão ampla do economista é necessária, principalmente em ambientes de incerteza, como o de nosso país, onde um bom conhecimento da realidade de mercado e do ambiente político-legal permite, dentro do possível, planejar as ações estratégicas, analisar o retorno dos investimentos da empresa e o comportamento da demanda, entre outras atividades de simulação de cenários futuros possíveis.Enfim cabe ao economista analisar os fatores que influenciam a economia nacional e mundial, daí a necessidade de qualificação. Os empregos, hoje, para os economistas estão restritos na medida em que apenas as grandes organizações, instituições de pesquisa, universidades e instituições financeiras investem na contratação destes profissionais, porém nos cursos que investem e preparam os alunos durante sua formação poucos se queixam de falta de oferta de empregos. Isto é ainda mais evidente nos países desenvolvidos onde a profissão é objeto de desejo. Por exemplo, nos Estados Unidos, nos últimos cinco anos, dados de 2004 quando em 272 escolas de nível superior foram formados 16.411 economistas, o número de profissionais da área aumentou em 40% mostrando a valorização e a procura pela profissão. Como, pela Lei nº 1441, de 13.08.1951, sancionada pelo presidente Getúlio Vargas, regulamentando a profissão de economista no país, se comemora o dia 13 de agosto como dia do Economista, nosso objetivo é o de incentivar um maior conhecimento sobre a profissão e parabenizar os colegas pela data.

terça-feira, agosto 09, 2005

A Favor do Economista

De acordo com dados do Inep -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, autarquia vinculada ao Ministério da Educação, não chegam a 70 mil o número de aluno matriculados nos cursos de Economia do país, embora, entre 2000 e 2003, haja crescido, em 9,9%, o número de economistas formados. No entanto o que mais tem chamado a atenção é o fato de que, nos anos iniciais do século XXI, os cursos de administração alcançaram, com 565 mil matrículas em 2003, o primeiro lugar no ranking nacional da preferência dos universitários, enquanto nas carteiras dos cursos de economia sentavam pouco mais de 10% deste total. Há, portanto uma tendência de diminuição do interesse pelas Ciências Econômicas que está na contramão, por exemplo, dos Estados Unidos onde, entre 2000 e 2004, 16.411 diplomas de Economia foram outorgados com um aumento de 40% em relação aos cinco anos anteriores.
Como explicar tal desinteresse, justamente, quando o diploma de Economia se torna, em todo mundo, um crescente objeto de desejo? Não há dúvida que, de uma parte, existe o fato de que ser economista exige mais do aluno. Não é só o tempo maior, como a maior exigência de matemática, leitura e raciocínio, embora isto pese. É também que há uma grande desinformação a ponto de muitos acreditarem que Administração dá uma formação mais abrangente, que o economista somente lida com mercado financeiro ou a visão, completamente distorcida, de ser uma profissão ligada a planos econômicos mirabolantes e fracassos recorrentes, ou seja, em geral, avaliam que o curso de administração é mais amplo, com uma formação que pode abrir mais portas para o mercado. Esta percepção tem mantido os jovens longe dos cursos de Economia. O mais estranho é que isto ocorre quando os economistas, ao contrário do que se pensa, têm visto seu campo de trabalho aumentar seja por causa das exigências da globalização, seja pela crescente necessidade de se entender as recessões e crises ou pelas questões ecológicas e de desenvolvimento sustentável.
Em Rondônia este desinteresse é facilmente compreensível. Com um campo de trabalho reduzido pelo desmantelamento governamental do planejamento e da pesquisa, bem como a desvalorização dos projetos de longo prazo, substituídos pelo “fazejamento”, a ação meramente reativa, o economista não possui dados essenciais para trabalhar como séries históricas, índices e relatórios. Na verdade, em termos de operacionalidade, exceto sob o ponto de vista da informática, há um evidente retrocesso nos padrões do desempenho público em relação às décadas passadas. Assim a desvalorização do economista representa, na prática, o abandono de uma melhor qualidade de vida e de um desenvolvimento mais rápido. Como disse, certa vez, o Dalai Lama sobre a necessidade, ou não, de um guru para a elevação espiritual que é possível sem ele, mas sua presença poupa tempo. O mesmo fenômeno se verifica em relação ao economista. Sem ele é possível criar desenvolvimento, mas sua presença poupa tempo, muito tempo, e recursos.

quarta-feira, agosto 03, 2005

Ninguém Merece

José Dirceu venceu sua primeira prova de amargura. O que não quer dizer que convenceu. Nem mesmo seu mais fiel adepto se arrisca a dizer que ele diz a verdade. Impossível crer que um esquema tão grande seja fruto de Delúbio, que não prima pela organização, ou de Silvio Pereira, um primário deslumbrado, ambos sem condições de ter acesso privilegiado a informações que seriam indispensáveis para movimentar tantos recursos, estabelecer tantas ligações que passam todas pelos interesses do governo. Para crer no depoimento de Dirceu é preciso descrer de todos que afirmam que, em suas mãos, repousavam a organização e a coordenação do governo e do partido. É como se não tivesse um plano, não tivesse metas nem objetivos, não fosse meticuloso na manipulação de situações e informações. Em outras palavras o homem que depôs não esteve no governo-tal a diferença.
Também impossível acreditar que não tivesse importante papel na definição de nomes, acordos e nomeações. Que, como afirmou, não tivesse informações privilegiadas de Abin, Polícia Federal e todo um aparato, que quem está no alto da pirâmide não deixa de usar, ainda mais quando se trata de alguém, como ele, controlador, centralizador, forjado na clandestinidade a trabalhar em silêncio para sobreviver. Suas afirmações estiveram eivadas de seu caráter: por demais dúbias. Não dizia que não disse. Procurava dizer que Roberto Jefferson queria lhe atribuir uma responsabilidade que não era sua, no entanto, foi, ou não foi, o homem forte do governo? Foi. E, num partido cujas discussões eram colegiadas, mas a decisão centralizada. Quem respondia pelo seu núcleo? Lula, Zé Dirceu, Delúbio, Gushiken. Talvez Genoíno, Pereira ou Sereno, mas é menos provável.
Como também não é verdade que não se procurou aparelhar o governo. Tanto é que os ministros não tinham direito de nomear os seus assessores e, muitas vezes, mudaram regras para “premiar” companheiros em posições para as quais não possuíam o devido preparo. E, ao contrário do que disse o ex-ministro, a composição não obedeceu aos mesmos critérios dos governos anteriores. Nenhum centralizou, inclusive com senhas, os postulantes nem os submeteu a um crivo meramente partidário. E nenhum outro dissolveu as diferenças entre o governo e o partido, entre os contra e os a favor de seu projeto, inclusive punindo mesmo os que estavam no seio de sua agremiação.
O problema é que a “tragédia” que se abateu sobre o PT tem nomes, sobrenomes e história. Não é do PT. É de uma cúpula que, em nome do partido, quis “mexicanizar”, ou melhor, “chavinizar” o país para permanecer escanchados no poder. E pisaram sem pena em quem se opôs aos seus desejos a ponto de que a imensa quantidade de denúncias vem do não menor cordão dos machucados, dos que, apesar de fiéis ao governo e ao PT, foram espezinhados por não se aliar com os donos do poder. O problema do depoimento de Zé Dirceu não é o de que a Globo tenha perdido um grande ator. É o de que o roteiro é obsceno, a trama imoral e os motivos de envergonhar um frade de pedra. Sou obrigado a concordar com o irmão siamês de Zé: o Brasil não merece isto. Que, pelo menos, seja uma lição para melhorar a qualidade da política no país.

segunda-feira, agosto 01, 2005

A Ética nas Empresas

Há, entre os economistas e cientistas sociais, a convicção de que o aumento do estado, e por conseqüência o aumento da burocracia, gera corrupção e impede a economia de estimular um ambiente adequado ao empreendedorismo, ou seja, quanto mais estado mais obstáculos à iniciativa privada e mais corrupção. No entanto, como agora vemos no caso do “Mensalão”, isto não quer dizer que o setor privado prime pela ética. Impossível não constatar que no meio dos escândalos públicos há sempre as impressões digitais de empresas privadas. E, por mais que venham sendo criados mecanismos para reforçar o comportamento social e ético das empresas, não se pode esconder que, no cotidiano, na maioria das vezes, estão envolvidas grandes empresas, empresas que faturam milhões e preferem investir recursos em propinas e em campanhas eleitorais a desenvolver melhorias em inovação e aumento da produtividade.
No Brasil, onde os mecanismos de acompanhamento e punição de tais práticas são frouxos, há empresas, como ficou patente com as de Marcos Valério, que crescem numa rápidez impressionante graças as suas ligações políticas. Esta a razão pela qual numa pesquisa realizada, em 2000, pelo Instituto Ethos, especializado em responsabilidade social, todas as 442 empresas consultadas responderam os questionários se autoavaliando, em termos de ética nas suas práticas, com notas abaixo de 5, numa pesquisa com notas no máximo de 10, numa evidente confissão de que suas relações com seu público não se pautam propriamente pela ética.
O problema parece ser que, quando se alcança um determinado tamanho, é impossível não se entrar em guerra por espaços comerciais nos quais, em geral, o estado possui uma participação relevante seja como comprador, seja como concessionário ou meramente como facilitador de certas questões. Daí é um passo para que se estabeleça algum tipo de relação que acaba sendo espúria. Segundo o diretor executivo da Transparência Brasil, Cláudio Weber Abramo, de todas as empresas que participam de licitações no país, em pesquisa realizada pela ONG, 62% receberam pedidos de propinas ou outros tipos de pagamentos para conquistar contratos. Ou seja, quando se fala em corrupção é impossível dissociar o público do privado. A visão que se tem de que o setor público é muito mais corrompido vem de que, em geral, os processos atingem os gestores de recursos públicos que são, imediatamente, execrados publicamente sem que se dê maior atenção aos corruptores. Como ensina Abramo: “O setor privado sempre tem mais força para se manter distante dos escândalos, em geral as estratégias de investigação evitam agredir as empresas, são questões táticas”. A recente exposição das conexões do publicitário Marcos Valério com o Partido dos Trabalhadores tem de incomum uma mistura entre o público e o privado que inverteu os tramites normais de investigação: não se sabe ao certo o que é público ou privado. O episódio, no entanto, é uma lição para empresas que abandonam as boas práticas e entram no canto de sereia dos políticos na busca de enriquecimento fácil. È impossível passar pela lama sem se sujar ou, como no caso atual, se atolar nela. Mostra também que é indispensável criar mecanismos e controles éticos na gestão do próprio negócio até para evitar as tentações. Afinal se, no mundo dos negócios, os santos não prosperam, não se deve dar espaço para ultrapassar limites que põem em risco o próprio nome e patrimônio duramente construído.