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quarta-feira, outubro 26, 2005

A URUCUBACA É INTERNA

O presidente Lulla da Silva em seus discursos vive jogando a culpa da situação política atual na oposição e nas “elites” que, supostamente, estariam utilizando a mídia para desestabilizar seu governo. No entanto o que se constata, quase todo dia, é que seu próprio governo, seu partido e ele mesmo não se cansam de produzir novos fatos que, invariavelmente, somente servem para desgastar mais ainda a imagem do governo. Não bastassem os problemas da aftosa, de corrupção sistêmica, de tráfico de influência dos parentes e auxiliares, agora, é seu vice, e ministro da Defesa, José Alencar, quem foi lançado à Presidência da República em 2006. Isto já seria desgaste bastante, mas teve mais, pois num discurso de pré-candidato, na festa de criação do Partido Republicano Brasileiro (PRB), legenda criada pelo vice e pelos evangélicos, Alencar voltou a atacar os "experts" da política de juros e sugeriu que o presidente faz discursos "demagógicos" e errou ao "prosseguir na política monetária neoliberal" dos antecessores. Alencar bradou contra as taxas de juros "estratosféricas e desproporcionais". Também atacou a falta de investimentos do governo em programas sociais e infra-estrutura juntando as duas coisas com as seguintes palavras que batem duramente na política econômica: "Nossas estradas acabaram, não temos recursos, a rubrica mais importante é da despesa da dívida, estamos a bel prazer dos experts do Copom; a filosofia do Copom está errada". E continuou: "Não estamos de acordo em assistir de braços cruzados ou indiferentes um país na estagnação, porque isso significa empobrecimento relativo". O curioso é que, depois, apesar de ser o segundo homem de Lulla da Silva e seu ministro, em entrevista, Alencar disse que não se sentia desconfortável com um discurso de oposicionista. E não deu nome de quem faz discurso demagógico ressaltando que "Foi uma citação genérica". E concluiu: "Acho que é muito comum dizer que o povo brasileiro tem direito a isso ou aquilo, ninguém vai mais acreditar em frases como essas." Ou seja, pintou o retrato, identificou e reconheceu as impressões digitais sem, no entanto dar o nome ao boi. O que se observa é que o ex-presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha, que foi muito criticado quando disse que o governo “bate cabeça” tinha toda razão. Não é que os oposicionistas ou elites ou quem quer que seja fique torcendo contra o governo. Nem precisa. Com tanta falta de coordenação, de habilidade, de criação de fatos negativos os problemas surgem da ação do próprio governo e do próprio partido. A urucubaca, se existe, é interna. Afinal não é a oposição que está começando a corrida eleitoral se lançando tão precipitadamente ao pleito do próximo ano, mas sim o substituto do próprio presidente. De fato isto sinaliza que o governo está acabado e que o presidente não precisa procurar adversários nas fileiras contrárias. Basta olhar para o lado. Seus maiores inimigos parecem ser seus próprios aliados.

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