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quinta-feira, fevereiro 23, 2006

MITO E GRANDEZA

Que o Brasil é um país de contrastes o prova as polêmicas que cercam a figura de JK. Louvado por muitos, execrado por alguns que o acusam de grandes males que ainda hoje nos assolam, é muito difícil analisar de forma racional o papel histórico de JK, principalmente quando, como agora, a TV Globo criou uma série de louvação generalizada para suas realizações. Nenhum estadista mesmo Getúlio Vargas, que lançou as bases para o Brasil moderno, tem uma dimensão tão grande quanto Juscelino no imaginário popular associado ao fato de que não somente industrializou o país como também se notabilizou por ter criado um jargão de mudar o país com um plano que se propunha a fazer o que não foi feito em cinqüenta anos em cinco.
Acrescente-se que há outras razões para o encanto que Juscelino possui como o fato de que seu governo, com todos os problemas que possa ter tido, foi o último mandato exercido plenamente entre períodos de ditaduras, por sua coragem para enfrentar os desafios não só para ser presidente, mas para realizar projetos fundamentais, como Brasília, a abertura de estradas para integrar o país, usinas hidrelétricas e a criação de mecanismos, à margem da burocracia oficial, para impulsionar a expansão industrial brasileira numa época em que a moda, a música e o mundo mudavam radicalmente. Juscelino criou, na ocasião, um clima de desenvolvimento, uma sensação nunca mais sentida de que o Brasil avançava para melhores dias, para alcançar a modernidade. Ressalte-se também que foi uma figura simples, generosa, alegre, mulherengo e musical, um dos poucos presidentes amante das atividades artísticas e de suas expressões, que, além de tudo, mostrava uma grande paixão pelo Brasil e pela vida.
Talvez nenhum outro presidente encarnou tão profundamente o sentimento de brasilidade e de descontração, inclusive no hábito pouco ortodoxo de tirar os sapatos, de forma que, se antecipando aos fenômenos da década de sessenta, desbloqueava o ambiente daqueles dias e não por coincidência abrindo espaço para o surgimento de fenômenos como a Bossa Nova, o Cinema Novo, o reconhecimento de nossa literatura, avanços científicos como as pesquisas nucleares de César Lattes, a conquista do primeiro campeonato mundial de futebol e, fruto direto de sua ação, a arquitetura de Niemeyer que deslumbrava o mundo. O Brasil, portanto nas mãos de JK resplandeceu como se houvesse, enfim encontrado o rumo do progresso e do desenvolvimento. Ilusão que se desfez logo depois, porém que deixou marcas profundas na lembrança popular. Podem acusar JK de ter cometido gravíssimos erros, no entanto não podem ofuscar sua grandeza de ser humano e de político. Como poucos, pouquíssimos mesmo, presidentes, eleitos ou não, era um homem que tinha sonhos, projetos e via no poder uma forma de realizá-los em prol de sua comunidade. Esta a marca real de todo grande político e que faz dele um mito e um exemplo a ser imitado. Este também um contraste diante dos pigmeus que fazem da política um mero passaporte para gozar do poder e de suas benesses.

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