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segunda-feira, outubro 31, 2005

NÃO VAI PASSAR

Infelizmente o tempo demonstra que, com Lulla da Silva na presidência, a crise não vai passar. A crise, efetivamente, vai se incorporar à rotina. Afinal não existe a menor perspectiva de que as forças políticas se aliem para amainar o ambiente. A razão principal reside em que, mesmo sem maioria parlamentar, ainda quando a oposição se torna mais, serena é visível à incapacidade dos petistas de admitir o óbvio, que pisaram nos tomates e isto possui um preço. Querem impingir a lorota de que sua ação de aparelhamento do Estado, de corrupção sistêmica, com o fito de tomar o poder por um tempo indefinido com um projeto social-sindicalista, é a mesma coisa que o Caixa 2. Não é. Existiu muito mais seja mensalão, semanão, mensalinho, porém, nas palavras exatas de Roberto Jéferson o PT optou por “pagar as forças mercenárias para não dividir o poder”. E se deu mal.
O maior problema reside em que se torna impossível que o colapso do sistema político, seu travamento, não tenha reflexos sobre a situação econômica. É a máquina pública, que já não costuma andar, parada, são os investimentos paralisados, diante da incerteza, são as denúncias que não pararão de encurralar o governo porque, não se iludam, há muito mais. Se esta semana a questão é o dinheiro de Cuba, que já desespera muitos parlamentares, amanhã serão os fundos, depois Petrobrás, Furnas, Banco do Brasil, Secom- só para citar alguns problemas que irão explodir sobre o Planalto. Isto fora à possibilidade crescente que os bois de piranha, Delúbio e Silvio Pereira, resolvam abrir a boca, que dona Renilda, a calada senhora Marcos Valério, ou Zé Dirceu, acuado pela falta de perspectivas, não resolva se vingar.
Lulla é um refém da situação. Entrou no governo como um presidente forte, talvez o mais forte de nossa história, amparado por milhões de votos, porém não conseguiu, sem maioria parlamentar, mudar nada. E sucumbiu diante de um Congresso eleito na base de práticas clientelistas sem compromissos partidários ou programáticos, por não fazer o que se esperaria de seu discurso de vida e de campanha: lutar para mudar o ambiente político. Neste sentido, como ninguém governa sozinho, por vias indiretas, resolveu “comprar” sua maioria e, com a ajuda do PT, os recursos vindos de Marcos Valério comprovam, atolou-se na prática de formas escusas superando até as práticas mais horrorosas da direita mais empedernida.
È verdade que Lulla continua um candidato capaz de ir ao segundo turno. Apesar dos escândalos e da corrupção pública, com as perspectivas razoáveis da economia, principalmente uma grande massa amparada pelo assistencialismo ainda sustenta índices razoáveis do governo e até a estabilidade econômica. No entanto a ética e as ações de governo são o contrário do que o presidente e o seu partido sempre pregaram, daí a sensação, especialmente entre a classe média e os servidores, de que foram vítimas de um golpe eleitoral. Se, afirmam os especialistas, não há tempo para que o impeachment de Lulla seja devidamente providenciado, por outro lado, não há também nem capacidade nem força para alterar os dados da situação, de forma que, tudo indica, iremos navegar entre uma onda e outra de denúncias até que o próximo pleito possa julgar o atual governo e criar novas esperanças. Com Lulla da Silva a esperança está morta, enterrada, cimentada por Caixa 2, financiamento ilegal de campanha e promessas traídas.

sexta-feira, outubro 28, 2005

OS MEIOS E A MASSA

A verdade é que, no Brasil, afora os baixos índices de escolaridade, o sistema de mídia de massa também ajuda a desinformar as pessoas ,o que torna mais fácil ludibriar os eleitores, pois quase toda população carece de consciência política. De fato a opinião política da grande massa brasileira acaba sendo plasmada via televisão e, mais específicamente, nos jornais televisivos mais assistidos, e por isto mesmo mais censurados, a ponto de somente veicularem notícias superficiais, sem maiores análises e, muitas vezes, colocadas de modo parcial, ao sabor dos interesses do momento.
Acrescente-se ainda que, na verdade, a grande massa não assiste, na TV, nem mesmo aos noticiários quanto mais aos programas mais voltados as análises das questões públicas essenciais. E também porque muitos deles só passam em horários tardios ou em canais da TV paga. Assim, quem acompanha os fatos políticos, quem tem opinião própria, quem possui uma argumentação lógica é uma minoria cujos opiniões somem no meio de uma massas pouco esclarecida que é quem decide os destinos das eleições e, muitas vezes, em cima de promessas enganadoras
Não há formas, inclusive de quebrar este monopólio das comunicações, na medida em que a forma utilizada pelas emissoras existentes, além de um investimento de longos anos, se perpetua pelo uso de pesquisas de opinião e somente levam em conta a possibilidade de dar lucro ou não, aparecer, ou não, no Ibope. Assim somente se divulga idéias de grupos com interesses econômicos, ou políticos, por meio de acordos de reciprocidade, que envolvem receitas e, acabam, por levar a triste situação do atual escândalo do “Mensalão”, que nada mais é que o ápice de um esquema imoral e sem futuro para os objetivos reais da nação .
Neste contexto, a democratização da comunicação de massa é indispensável. A questão é que somente se pode fazer tal mudança pela via política e aí se volta a velha parábola dos ratos que deveriam colocar um guizo no gato. Se são os canais de TV abertos, que podem ser assistidos sem se ter que pagar pelo recebimento do sinal, são que o povo assiste como diversificar uma programação mais crítica (e fazer com que a população assista) sem que recebam receita dos espectadores se somente ganham muito dinheiro com propaganda? A formula da televisão estatal, como toda atividade estatal, está gasta pela sua inoperância e incapacidade explicita de gerar uma grade com condição de concorrer com as redes privatizadas. È um dilema a ser enfrentado.
É certo que há tvs estatais que fazem bons programas de cultura e de análises de fundo, mas não são boas de jornalismo nem conseguem ser boas de audiência. O ruim é que canais sob controle da iniciativa privada não garantem uma informação de qualidade e formadora da consciência política da população. Sem encontrarmos soluções para tal problema, de vez que os meios impressos e a própria Internet não se constituem, ainda, no mundo atual uma alternativa, corremos o sério risco de manter uma massa sumamente bem entretida, porém sem a menor consciência política.

quinta-feira, outubro 27, 2005

A CULTURA ENLAMEADA

É uma tristeza ver pessoas que, supostamente, são artistas e intelectuais se prestarem ao papel de fazer um manifesto apoiando José Dirceu e o governo Lulla da Silva. É, no mínimo, com tristeza que vê, entre elas, figuras relevantes como Emir Sader, Dalmo Dallari, Gianfresco Guarnieri, Paulo Betti e José de Abreu entre outros. Não se trata de que Dirceu não mereça que os amigos o defendam e até fiquem ao seu lado numa situação como a atual. Muitas vezes temos que ser solidários, mesmo sabendo que o amigo está errado, ou é criminoso. A questão é que não se pode tratar as coisas públicas como se fosse questão de lado, como se quem estiver de nosso lado tudo seja permitido e aos outros, partidos e pessoas não. Infelizmente, seja quem for que use a máquina pública, que desvie recursos que deveriam ser utilizados para melhorar o país, por mais que tenham um passado glorioso caíram no limbo, na lama, na vala comum dos criminosos.
Este episódio, além da mancha que deixa na capacidade intelectual e crítica dos apoiadores, revela também uma das causas que nos trouxeram à presente situação, qual seja a conivência de todos com uma espécie de ditadura mental que parece acometer à mídia e o sistema educacional quando toma partido de algum tipo de movimento na sua maioria ditado pelo ativismo comunista. Como ex-marxista, e, hoje, um livre-pensador, toda vez que me coloco contra bandeiras tidas como “sagradas” sou taxado de “direita” porque, na verdade, nesses nichos há, normalmente, uma unanimidade de pensar que me aterroriza por ser mera repetição de slogans e uma espécie de “politicamente correto” que passa a ser parte essencial e obrigatória da cultura vigente. Assim, com a queda do PT, agora há um substituição pura e simples (e adesão) ao P-Sol sem nenhuma auto-crítica em relação ao que aconteceu.
Não se pergunta, por exemplo, por qual razão o PT é criminoso. É criminoso não somente por ter frustrado as esperanças de milhões, porém também por adotar um comunismo cego que conspira, inclusive com a marginalidade, sem padrões éticos para criar uma república sindicalista e estatal. É criminoso por que roubou não para proveito de seus dirigentes, embora muitos tenham usufruído, mas para submeter todo o país as suas idéias, criar um suposto socialismo que se provou um regime ultrapassado, um dos piores sistemas que existiu no mundo.
Não se pode esquecer que o PT, que hoje reclama que está sendo linchado moralmente, jamais hesitou em difamar alguém se valendo de militantes de mentes intelectualmente fracas, mas eficientes em utilizar, sem maiores provas, acusações que funcionavam bem quanto menos eram sólidas e mais divulgadas, sempre no sentido de intimidar os adversários. A própria imprensa deveria fazer uma meã-culpa de ter omitido uma série de fatos que permitiram uma visão mais clara do aparelhamento e da ação deletéria dos dirigentes petistas. É esta falta de arejamento das informações, a falta de discussões, de fato, relevantes e intelectuais, que permitiram que se chegasse onde chegamos. E, por tal razão, ver um punhado de pessoas tidas como artistas e intelectuais participando de um manifesto igual a este mostra bem como a nossa educação e intelectualidade anda distante dos sonhos de um país desenvolvido.

quarta-feira, outubro 26, 2005

A URUCUBACA É INTERNA

O presidente Lulla da Silva em seus discursos vive jogando a culpa da situação política atual na oposição e nas “elites” que, supostamente, estariam utilizando a mídia para desestabilizar seu governo. No entanto o que se constata, quase todo dia, é que seu próprio governo, seu partido e ele mesmo não se cansam de produzir novos fatos que, invariavelmente, somente servem para desgastar mais ainda a imagem do governo. Não bastassem os problemas da aftosa, de corrupção sistêmica, de tráfico de influência dos parentes e auxiliares, agora, é seu vice, e ministro da Defesa, José Alencar, quem foi lançado à Presidência da República em 2006. Isto já seria desgaste bastante, mas teve mais, pois num discurso de pré-candidato, na festa de criação do Partido Republicano Brasileiro (PRB), legenda criada pelo vice e pelos evangélicos, Alencar voltou a atacar os "experts" da política de juros e sugeriu que o presidente faz discursos "demagógicos" e errou ao "prosseguir na política monetária neoliberal" dos antecessores. Alencar bradou contra as taxas de juros "estratosféricas e desproporcionais". Também atacou a falta de investimentos do governo em programas sociais e infra-estrutura juntando as duas coisas com as seguintes palavras que batem duramente na política econômica: "Nossas estradas acabaram, não temos recursos, a rubrica mais importante é da despesa da dívida, estamos a bel prazer dos experts do Copom; a filosofia do Copom está errada". E continuou: "Não estamos de acordo em assistir de braços cruzados ou indiferentes um país na estagnação, porque isso significa empobrecimento relativo". O curioso é que, depois, apesar de ser o segundo homem de Lulla da Silva e seu ministro, em entrevista, Alencar disse que não se sentia desconfortável com um discurso de oposicionista. E não deu nome de quem faz discurso demagógico ressaltando que "Foi uma citação genérica". E concluiu: "Acho que é muito comum dizer que o povo brasileiro tem direito a isso ou aquilo, ninguém vai mais acreditar em frases como essas." Ou seja, pintou o retrato, identificou e reconheceu as impressões digitais sem, no entanto dar o nome ao boi. O que se observa é que o ex-presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha, que foi muito criticado quando disse que o governo “bate cabeça” tinha toda razão. Não é que os oposicionistas ou elites ou quem quer que seja fique torcendo contra o governo. Nem precisa. Com tanta falta de coordenação, de habilidade, de criação de fatos negativos os problemas surgem da ação do próprio governo e do próprio partido. A urucubaca, se existe, é interna. Afinal não é a oposição que está começando a corrida eleitoral se lançando tão precipitadamente ao pleito do próximo ano, mas sim o substituto do próprio presidente. De fato isto sinaliza que o governo está acabado e que o presidente não precisa procurar adversários nas fileiras contrárias. Basta olhar para o lado. Seus maiores inimigos parecem ser seus próprios aliados.

O PAÍS SEM FUTURO

O Brasil, primeiro, foi a terra do Pau Brasil. Depois passou a ser a terra do açúcar, do café, do samba. Já foi a pátria de chuteiras, e, até, no cinema, o berço das chanchadas. Tudo isto parece, agora, muito distante. O ex-país do futuro chegou ao seu destino. É, sem favor algum, o país da desigualdade, da impunidade tendo como cereja, no alto do bolo, a mais deslavada e completa falta de vergonha pública.
É vergonhoso ver o presidente Lulla, cuja verborragia só concorre com a ineficiência de seu governo, afirmar, na Rússia, que a aftosa está debelada, justamente, quando se descobrem três novos focos. O mesmo presidente que, com o apoio de seu vice, e o novo presidente do PT, Ricardo Berzoini, defende a tese que o PT só cometeu os mesmos erros, normais, comuns dos outros partidos, ou seja, utilizou o caixa 2. Esqueceram, porém de combinar com o ministro da Justiça, Thomaz Bastos, que diz, até porque conhece leis, que caixa 2 é crime tipificado na legislação.
Não importa se Pedro Álvares Cabral fez ou se foi o senador Eduardo Azeredo. Caixa 2 não é como disse Delúbio Soares “piada de salão”. É crime e, como crime deve ser tratado, não importa por qual partido seja feito. O máximo, no entanto da completa falta de vergonha é que os criminosos já não tem vergonha de seus crimes. Comportam-se como Zé Dirceu, que vai atrás de todo mundo para dizer que é inocente, pois ninguém comprova seus crimes, ou o próprio Delúbio que faz festa de aniversário, no meio da maior crise da história brasileira, para dizer que nada está acontecendo. Mas, para desgosto, deles está. O país não agüenta mais a pizza que estão nos oferecendo de tão porca, imoral, imunda.
Constantemente assisto gestos de revoltas ou palavrões quando Lulla ou Zé Dirceu aparecem na televisão. Eles são a verdadeira urucubaba que pousou no país. Diogo Mainardi tem razão quando diz que é preciso, inadiável, urgente retirar Lula da Silva do poder. Com ele lá a crise não terá fim. Com ele lá vai continuar esta procura infindável de esconder o sol com uma peneira. E o país não avança, não prospera. Lulla não tem mais nada o que dar. Somente os erros de sempre, a mesma patuscada homérica de fazer discursos sobre programas que não andam e, passear, pelo mundo afora ganhando prêmios arranjados para encobrir a imensa falta de vergonha que grassa no seu governo e no seu partido. Está na hora de reconhecer que não dá mais. É um peso que o país carrega sem a mínima condição de melhorar mais nada. Está na hora de sair.

terça-feira, outubro 25, 2005

UM NÃO CONTRA A FALTA DE SEGURANÇA

Uma boa leitura do não
O resultado acachapante do “Não” no referendo sobre a não comercialização de armas não autoriza um certo ufanismo da Frente Pela Legítima Defesa, vencedora do referendo, que faz uma leitura errônea, ou mal intencionada, do resultado para, no Congresso, tentar modificar o Estatuto do Desarmamento. Este nunca esteve em discussão, mas apenas um artigo da lei do Estatuto que estabelecia o fim do comércio de armas e munições. O Que se deve entender a vitória do “não” se tratou muito mais de um “não” as políticas públicas de segurança, ao desempenho dos governos, de uma forma geral, e, em particular, ao do presidente Luiz Inácio Lulla da Silva, que, no passado, era um feroz crítico de tais políticas por não proporcionar as condições de paz ao povo, mas que, esquecido, ou desmemoriado, vê não somente a questão da segurança se agravar como não avançou (antes regrediu) um milímetro sequer no setor a ponto de, em certas cidades, o caos estar próximo de ser virar guerra civil tal o grau de violência. Também outra leitura desagradável do referendo pode ser a de estimular grupos de pressão a aproveitar-se do mecanismo de consulta para aprovar propostas indevidas. O próprio presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Carlos Velloso, em entrevista no domingo, declarou-se fervoroso defensor dos referendos. Faltou apenas dizer que um referendo tem custos elevados e, o inconveniente de subtrair poderes do Congresso, que, até onde se sabe deve existir para analisar e aprovar as leis, conforme estabelecem os princípios da democracia representativa e nossa Constituição. A democracia direta tem limites e devem ser utilizados para solução de problemas de caráter geral e relevantes-o que não era o caso inclusive do que foi feito, por sinal perfeitamente dispensável e pura pirotecnia que cobrou seu preço do próprio governo.Referendos são bons apenas para tópicos muito específicos, de baixa complexidade técnica. Não podem (e não devem) substituir o Congresso nem servir de alternativa para situações em que impasses normais na vida parlamentar bloqueiam a tramitação de certos projetos de lei na medida em que podem passar a ser uma prática que emperra e empurra decisões que, normalmente, exigem análise e estudos para um clima passional. O que é preciso entender é que o não só venceu porque os governantes se comportam como a governadora do Rio, Rosinha Matheus, que classificou o referendo como “um equívoco” (correto), mas ao dizer que “Acontece que esse assunto é polêmico e mexe com o emocional das pessoas. Muita gente de bem, lógico, está votando no Não. Como governadora que tenho acesso a estatísticas, pesquisas e projeções, afirmo que o desarmamento agregado a um conjunto de outras medidas é necessário para acabar com a violência”. Ou seja, como governadora não faz “o conjunto de outras medidas” necessária para acabar com a violência, porém quer que o povo acredite (quando pede para votarem sim) que os bandidos vão desistir de assaltar com todo mundo desarmado. São contra dirigentes assim que o “não” avassalador desabou de Oiapoque ao Chuí. É o não contra a inoperância do poder público na área de segurança pública. É um recado claro da insatisfação popular contra a falta de segurança e a ineficiência dos governos.

O POVO DISSE NÃO PARA A SEGURANÇA

Uma boa leitura do não
O resultado acachapante do “Não” no referendo sobre a não comercialização de armas não autoriza um certo ufanismo da Frente Pela Legítima Defesa, vencedora do referendo, que faz uma leitura errônea, ou mal intencionada, do resultado para, no Congresso, tentar modificar o Estatuto do Desarmamento. Este nunca esteve em discussão, mas apenas um artigo da lei do Estatuto — o que estabelecia o fim do comércio de armas e munições. O Que se deve entender a vitória do “não” é que se tratou muito mais de um “não” as políticas públicas de segurança, ao desempenho dos governos, de uma forma geral, e, em particular, ao do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, no passado, era um feroz crítico de tais políticas que considerava ineficientes por não proporcionar as condições de paz ao povo, mas que, esquecido, ou desmemoriado, vê não somente a questão da segurança se agravar como não avançou (antes regrediu) um milímetro sequer nas políticas do setor a ponto de, em certas cidades, o caos estar próximo de ser visível nos tiroteios no meio das ruas e no fechamento de estabelecimentos comerciais por medo aberto dos assaltos e da violência. Também outra leitura desagradável da negativa do referendo pode ser a de estimular grupos de pressão a aproveitar-se do mecanismo de consulta para aprovar propostas indevidas. O próprio presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Carlos Velloso, em entrevista no domingo, declarou-se fervoroso defensor dos referendos. Faltou apenas dizer que um referendo tem custos elevados e, o inconveniente de subtrair poderes do Congresso, que, até onde se sabe deve existir para analisar e aprovar as leis, conforme estabelecem os princípios da democracia representativa e nossa Constituição. A democracia direta tem limites e devem ser utilizados para solução de problemas de caráter geral e relevantes-o que não era o caso inclusive do que foi feito, por sinal perfeitamente indispensável e pura pirotecnia que cobrou seu preço do próprio governo.Referendos são bons apenas para tópicos muito específicos, de baixa complexidade técnica, sem muitos problemas que envolvam grandes diferenças de caráter político, econômico e social. Não podem (e não devem) substituir o Congresso nem servir de alternativa para situações em que impasses normais na vida parlamentar bloqueiam a tramitação de certos projetos de lei na medida em que podem passar a ser uma prática que emperra e paralisa decisões que, normalmente, exigem análise e uma definição dos representantes legais da população que devem ser preparados e/ou buscar pessoal técnico capaz de achar boas soluções e viabilidade. O que é preciso entender é que o não só venceu porque os governantes se comportam como a governadora do Rio, Rosinha Matheus, que classificou o referendo como “um equívoco” (correto), mas ao dizer que “Acontece que esse assunto é polêmico e mexe com o emocional das pessoas. Muita gente de bem, lógico, está votando no Não. Como governadora que tenho acesso a estatísticas, pesquisas e projeções, afirmo que o desarmamento agregado a um conjunto de outras medidas é necessário para acabar com a violência”. Ou seja, como governadora não faz “o conjunto de outras medidas” necessária para acabar com a violência, porém quer que o povo acredite (quando pede para votarem sim) que os bandidos vão desistir de assaltar com todo mundo desarmado. São contra dirigentes assim que o “não” avassalador desabou de Oiapoque ao Chuí. É o não contra a inoperância do poder público na área de segurança pública.

quinta-feira, outubro 20, 2005

É PRECISO PENSAR O BRASIL

Embora cultive o otimismo não posso esconder o fato de que, como analista, ainda penso que as grandes crises estão por vir. Não só as ambientais, como a seca na Amazônia, ou os furacões no hemisfério norte, principalmente, as políticas. E isto é mais grave porque, infelizmente, neste momento, não temos teorias pensadas sobre a nossa realidade, nem lideranças capazes de apontar caminhos, ou seja, não estamos preparados para fazer com consciência as mudanças que devem ser feitas.
Infelizmente, repito, seja no ambiente político, seja no ambiente intelectual há a ausência de um pensamento original, de um pensamento brasileiro que separe o útil do inútil, o aplicável do inaplicável na nossa realidade. Falta pensar o Brasil atual, o Brasil não isolado do mundo. È preciso pensar o Brasil no mundo, pois estamos numa fase em que não há solução possível para a realidade brasileira sem levar em conta o contexto mundial. Não podemos nos deixar levar por falsos diagnósticos, voltados para o passado, que querem, pela recusa cega à mundialização, que querem retornar aos tempos em que o país desejava ser uma autarcia. A mundialização se tornou um fenômeno do qual não há como escapar. Fora dela não há qualquer sentido de progresso. Se, é claro, que devemos combater seus males, com a inteligência e a paixão possível, não podemos nos iludir quanto à inevitabilidade da globalização capitalista. A questão, porém é outra: de como, apesar dela, poderemos usar a inteligência e o saber para melhorar o Brasil no mundo e como fazer a defesa dos interesses da humanidade contra as possibilidades de catástrofe que este modelo embute. Não é possível, nem provável, que vá se ter sucesso, por exemplo, rompendo com o imperialismo, adotando uma posição radical sobre o pagamento das dívidas. No entanto é possível criar uma política de desenvolvimento não predatória, que não destrua as nossas reservas naturais, que leve em conta o meio ambiente e uma melhor distribuição de renda. Com tanta desigualdade, sem dúvida, o Brasil não poderá ser uma nação importante neste jogo, daí a necessidade inadiável, a urgência em pensar o nosso país. Em criar, de fato, uma política de educação e de distribuição de renda sem as quais as tragédias possíveis serão bem maiores que os mensalões, as secas e aftosas na moda. É preciso pensar o Brasil.

terça-feira, outubro 18, 2005

TRISTE BRASIL, Ó QUÃO DESSEMELHANTE!

Quem mostra é o último Relatório de Desenvolvimento Humano, da ONU, que o Brasil é o quinto mais desigual do mundo: perde apenas para a Namíbia, o Lesoto e a República Centro-Africana, países africanos, e o Paraguai. O documento foi feito pelo Programa das Nações Unidas pelo Desenvolvimento-PNUD, no qual também esta explícito que os 10% mais ricos do Brasil faturam 68 vezes mais que os 10% mais pobres, ou seja, uma desigualdade que deveria, no mínimo, ser o objetivo central da política econômica desenvolvida no país.
Porém, como acontece desde que foram implantados os governos militares, os objetivos até podem ter sido de desenvolver, porém jamais de distribuir renda mesmo depois que o bolo cresceu. Todas as políticas públicas têm sido concentradoras com os ricos ficando mais ricos e os pobres ficando cada vez mais pobres. Nem mesmo com a volta da democracia o Brasil deixou de continuar seu inexorável destino de ser um dos países com a maior concentração de renda do mundo.
A palavra distribuição de renda, embora extremamente usada nos discursos, foi, nos últimos oito anos de Fernando Henrique e, mais agora na gestão Lulla da Silva, um tema recorrente, mas que não se traduziu, em momento algum, em prioridade de governo. A prioridade tem sido o ajuste das contas públicas feito via política monetária com juros altos para segurar a inflação e corte nos investimentos e nos projetos sociais. Daí o endividamento, o aumento dos lucros bancários, o sufoco do setor produtivo, o nível de emprego estagnado e a renda do trabalhador decrescente sem contar com a constatação de que a classe média vai desaparecendo tragada pela não recomposição das perdas, a alta carga tributária e a inflação.
O mais grave no relatório do PNUD é verificar que, no caso do Brasil, a transferência de 5% da renda dos mais ricos para os mais pobres seria bastante para tirar da miséria 25 milhões de pessoas. Ou seja, só isto já garantiria o sucesso de qualquer governo comprometido realmente com a melhoria da distribuição de renda. No entanto o governo atual, comprovadamente, tem gastado mais com propaganda do que com programas sociais ou com o microcrédito. Na verdade são desenvolvidas políticas compensatórias, como os programas de transferência de renda, como restaurantes populares ou farmácias populares, mas não reduzam a desigualdade, embora seja, importante para a sobrevivência das parcelas mais pobres da população. Não adianta o Brasil registrar números positivos na economia quando se mantém a mesma fórmula de concentração da renda nas mãos de poucos. Não há forma do Brasil encontrar o seu caminho sem diminuir a desigualdade e, infelizmente, o atual governo se mostra incapaz de dar respostas eficazes aos problemas nacionais.

quarta-feira, outubro 12, 2005

O RISCO LULLA

Tá na hora! Tá na hora!
Quando Lulla da Silva derrotou o suposto modelo neoliberal de FHC surgiu como a vitória de um projeto que prometia esperança, prioridade do social e uma mudança radical no modelo econômico brasileiro do qual se esperava, supostamente, que levasse a uma modificação dos padrões históricos de desigualdade do país. Hoje, infelizmente, nada mais resta de qualquer dessas promessas.
Lulla é uma espécie de zumbi cujo mau-cheiro se descobre em cada passo de seu governo, em cada gesto, em cada fala e em cada companheiro ou parente. Uma hora é o filho, outra hora é o irmão, outra hora são os gastos de cartões de crédito e, quando se espera que a coisa vá amainar, aparece o Ministério Público mostrando que o filho de Zé Dirceu teve Waldomiro como “procurador” de seus interesses na Casa Civil. É a deterioração completa do mais importante partido brasileiro, referência internacional de esquerda, que, ironia, tem, agora, como esperança maior eleger Berzoini, o do prêmio de crueldade, para se refundar. Está refundido por natureza.
Nada mais resta da bela trajetória de um partido e de um dirigente, Lulla da Silva, que marcaram a política brasileira brandindo a ética na política e a prioridade social. Ambas as bandeiras, sujas de lama, se foram pelos ralo substituídas pelas malas e cuecas recheadas de dólares, pelos publicitários com contas no exterior, por uma corrupção sistêmica e sindical que aparelhou o Estado e, descoberta, parece estranha aos próprios membros do partido, mas é o retrato da distância entre a cúpula do partido e seus militantes quanto mais do povo que acreditou nas falsas promessas. Lulla se fosse capaz de auto-crítica renunciaria. Como não é capaz terá que ser apeado. Cada vez mais será uma questão de governabilidade ou a classe política, cega, estará caminhando para que a desesperança faça nascer um novo período ditatorial.

sábado, outubro 08, 2005

BOM, MAS NÃO TANTO

Este projeto de transposição do rio São Francisco é considerado, por muitos estudiosos, um despautério. Sem entrar em aspectos técnicos somente o fato do rio precisar ser revitalizado já se constitui num fator preponderante para desaconselhar sua execução. Mas, infelizmente, o governo Lulla da Silva possui propensão para bater cabeças e, insiste, em fazer projetos problemáticos e não cuidar dos mais simples e, evidentemente, indispensáveis, como a recuperação da malha viária ou fazer investimentos em ferrovias.
Quem procura acha. E encontrou, lá no sertão, um bispo cabeçudo que daria sua vida em troca de uma causa nobre. Por mais que sejamos contra a intromissão de religiosos em problemas leigos usando sua condição institucional não há como não louvar o ato, embora ressaltando que é uma insensatez impedindo uma outra maior. Ainda que o ato não seja muito educativo e, pode, resultar em imitações nefastas que ceifem vidas. Afinal nem sempre pode se esperar bom senso dos políticos. Neste caso, até pela situação, houve. O governo bem que poderia aproveitar este primeiro passo e, invés de fazer discursos unilaterais, buscar mais dialogo com a sociedade e ser mais eficiente na ação. Ainda possui capital político para melhorar, porém tem que sair do seu castelo como fez agora. Voltar atrás, às vezes, é um bom sinal. Porém, logo depois, o governo diz que não é bem assim...Dá para se perceber que cumprir os acordos não é o seu forte.