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terça-feira, janeiro 03, 2006

A BOLÍVIA SOB NOVA DIREÇÃO

O novo presidente da Bolívia, Evo Morales, numa entrevista para o jornal argentino Página 12 mostrava-se muito satisfeito pela resposta do povo boliviano, que lhe deu um mandato com recorde de votos, pois ninguém havia conseguido mais de 50% desde a década de 50. Atribuiu isto ao fato de ser indígena e considerou um triunfo dos povos indígenas, não somente da Bolívia, mas da América Latina. Procurando apaziguar os conflitos internos disse “Também me sinto orgulhoso das classes média e intelectuais, e quero que também eles se sintam orgulhosos dos indígenas e de Evo Morales e juntos podemos modificar nossa Bolívia pensando na unidade, pensando nos pobres e nos marginalizados”. O discurso é um bom discurso, principalmente quando afirma que se trata de governar convencendo, persuadindo e não vencendo para, com muita vontade, mudar a história, continuando o que Tupac Katari e outros líderes indígenas tentaram antes. Aqui começa o grande problema. Morales apela para uma ideologia que pode até funcionar internamente (o que já é difícil), mas será, praticamente, impossível funcionar para o ambiente internacional em primeiro lugar porque, ignorando os controles econômicos mundiais de preço, afirma que, para o gás tem que haver “um preço especial para o mercado interno”, que não é possível que tenhamos semelhantes recursos sob a terra e em cima dela os seres humanos vivam cozinhando com esterco de animais e lenha (ou seja, não se trata de mercado, mas de uma decisão de governo). Para ele não se pode continuar vendendo no mercado interno a preços internacionais. E o problema fica maior na medida em que diz ser a nacionalização dos recursos minerais sua primeira medida econômica, bem como, contrariando os Estados Unidos, que não vai haver "coca zero", que vai cultivar de maneira racionalizada, para o consumo legal. Mesmo que tenha dito que o diálogo está aberto, inclusive com o governo dos Estados Unidos, enfatizou a tese de que precisa de relações, mas não relações de submissão nem de subordinação. Relações orientadas para resolver os problemas das maiorias. Em síntese Morales não tem uma visão sobre a interdependência mundial e de que seu país pode ser marginalizado, com amplos problemas internos, se não desenvolver uma estratégia para o que chama de “socialismo comunitário”, uma versão indígena para socialismo, pois segundo ele. “Na terra onde nasci não há propriedade privada, a área pecuária e agrícola é de toda a comunidade. É preciso recuperar os princípios de reciprocidade e de redistribuição de nossas riquezas”. É muito bonito, em tese, mas experiências “socialistas” em economias de mercado nunca contribuíram muito para a estabilidade e o desenvolvimento.

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