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segunda-feira, janeiro 16, 2006

O NÓ É O HOMEM

As facilidades e inovações trazidas pela tecnologia, em especial a do conhecimento, muitas vezes tratada como TI, não estão dissociadas de certos graus de complexidade que aumentam o fosso social entre os pobres e os ricos. Inútil tentar esconder o que é cristalino: o analfabetismo subiu de nível. Hoje ser analfabeto não se trata apenas de não saber ler. Trata-se também de não manusear os equipamentos eletrônicos, de não ter acesso à Internet, de, por fim, não ter ao menos o secundário para entender as complexidades mínimas do mundo moderno. Daí que os indivíduos e nações que possuem vasta parte de sua população neste nível de escolaridade ter ganhado a classificação, equivalente ao de atrasado no passado, de “excluído”. A conotação de excluído, no entanto tem significado muito mais grave porque marca com o timbre definitivo da quase impossibilidade de aproveitamento, da incapacidade de aproveitamento no mercado.
Trata-se do fato também que a informação- mola mestra do saber e do valor nos tempos presentes- não se espalha como uma mancha de óleo nem, ao contrário do que muita gente prega (e pensa) funciona automaticamente. Aliás, não é muito incomum se confundir o conhecimento com o seu portador mecânico, o equipamento, como se a simples instalação, por exemplo, de microcomputadores fosse resolver, por encanto, os problemas de organização, de direção e de sociabilidade. Não é assim. A lógica da informática é, justamente, o contrário, ou seja, é preciso que se ajuste a organização, que normatize as práticas, que se treinem as pessoas para, só depois, programar os equipamentos cuja real vantagem é a da aceleração dos processos, porém jamais irá dispensar o conhecimento, e cada vez mais conhecimento, por trás de seu funcionamento.
Acontece que, com o aprimoramento e facilitação do manuseio das invenções humanas, como o rádio, a televisão, o fax, a máquina fotográfica entre outros, a sua apropriação se deu pela lógica da utilidade, de tal forma que, formalmente, as coisas são simples, mas que não é assim o demonstram as imensas dificuldades das pessoas de menor escolaridade diante dos caixas eletrônicos e do verdadeiro “pavor” que possuem de tentar por si mesmas resolver procedimentos que, para nós mais letrados, são profundamente simples. Esses, os mais frágeis diante da exclusão, não temem, de fato, a máquina. O pavor tem um nome bem concreto, e como o analfabeto que esconde sua incapacidade de leitura, não provém do livro, mas do “outro”. É a vergonha de ser motivo de ridículo que incapacita os mais despreparados de tentar. Sem filas tentam. E, muitas vezes, conseguem.

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