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sábado, janeiro 28, 2006

A FLOR DO LODO

Que o instituto da reeleição presidencial, uma cópia indevida de práticas de outras culturas, adotada entre nós, se tornou uma excrescência o prova a situação atual. Apesar da completa falta de legitimidade do governo Lulla da Silva, com todas as suas principais figuras do Ministério e partido, senão apeadas, pelo menos, publicamente desmoralizadas a ponto de, no seu principal reduto, São Paulo, não ter um candidato viável ao governo. Ainda assim permite que, pelo uso da máquina, que favorece a persistência de laços políticos e eleitorais, pelo conluio de associações de interesses e de alianças de cúpula, amparados, principalmente no Caixa 2 proveniente do Estado, se permite à manipulação explícita das situações, de tal forma que os crimes mais claros são pasteurizados como práticas comuns a todos os partidos ou apenas como tentativa de apressar a corrida eleitoral. A desfaçatez das manipulações é tão grande que a TV Globo, com o auxílio do Ibope e da revista Isto É, chega a ocultar resultados da pesquisa de intenção de votos para favorecer o governo ou, como fez, agora, o jornal O Globo, cria uma enquête para afirmar, o que deve ter acontecido se somente permitiram os votos de petistas favorecidos pelo esquema, que 55% da opinião pública entende que Lulla deve se candidatar de novo. Puro exercício de imprensa áulica.
A questão, porém ultrapassa as meras manipulações da opinião pública por meio da imprensa. O certo é que, como os interesses imediatos da reeleição comandam as ações, acontecem, como foi a quebra da verticalidade das alianças eleitorais, ações isoladas que, sob o ponto de vista da organização do Estado, inviabiliza os esforços já despendidos para preservar a integridade da organização partidária brasileira, com o único fito de frustrar as negociações de base e permitir arranjos de interesse do governo atual. Nada se fez, no entanto, para, por exemplo, criar o voto distrital ou reformular, de fato, a legislação partidária e eleitoral. No fundo tudo gira em torno do curto prazo, em torno do imediatismo.
O discurso que Lulla difundiu nestes três anos de governo, mesmo se não confere com as pregações anteriores dele e do partido, parece não importar. Não há mesmo nem a preocupação de dar um mínimo de coerência entre o que se dizia, o que se diz. A única bússola do atual governo são os números das pesquisas de opinião. E a essência de discurso, uma linha mestra, central, espécie de eixo racional, é o apego à imagem de Lulla da Silva como o “salvador”. Este culto à personalidade do Chefe, a exaltação das suas virtudes e o reconhecimento das suas obras, bastante contestadas, é a base factual do discurso. No fundo se deseja transformar o escândalo, denunciado pelos próprios aliados petistas, numa prova da infalibilidade do chefe. O cerne do discurso é, portanto mostrar Lulla como um mártir que, ao melhorar a vida dos pobres, está sendo sacrificado por isto. Ou seja, querem extrair uma flor do lodo. Como no Brasil tudo é possível....

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