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terça-feira, janeiro 24, 2006

O DESAFIO DE EVO MORALES

Evo Morales tomou posse com festas, foguetes e todas as comemorações que tem direito. E, pelo menos, no discurso empolgou: “Coca zero sim; cocalero zero não”. Um ponto bastante comum com seus supostos parceiros Fidel, Hugo Chávez e Lulla da Silva. Por sinal, com os dois últimos, tem também o passado de pobreza comum aos seus povos, mas, como já se está cansado de verificar, isto não basta. Vai ser necessário, que além do discurso radical, as realizações se façam sentir. Por ter empolgado os bolivianos, e a maioria indígena, Evo Morales, como presidente da Bolívia, terá que, rapidamente, conseguir modificar a insatisfação de sua gente - os índios e pobres – ao mesmo tempo em que não pode contar com significativa parte da elite que não vê com bons olhos (e não assistirá passiva) as mudanças proposta da partilha da riqueza boliviana, em especial das terras, por uma revolução do voto.
È preciso acentuar que os bolivianos têm uma história de revoluções, mas que apresentam, em geral, as mesmas tentativas de estatização de serviços e riquezas, independentemente de quem as pratica, se à direita ou à esquerda. Neste sentido as propostas de Evo não inovam em relação aos conflitos de "paceños" e "llaneros". A mudança é uma liderança indígena com as mesmas velhas propostas como se fosse a salvação nacional. Na pratica o programa de governo atual do presidente já foi tentado, outras vezes, sem sucesso. Basta lembrar Victor Paz Estenssoro ou Hugo Banzer, que são lembranças não muito boas dos bolivianos. O que levou Evo ao poder foi o cansaço com os políticos tradicionais, as denúncias de corrupção e os erros de estratégia norte-americana que acentuaram o anti-americanismo que também foi alimentado pelo fato da elite boliviana criar seus filhos bem longe do país para trazê-los de volta para assumir posições nos negócios e no governo sem nenhuma identificação com o povo. Esta identificação é o que diferencia Evo de seus antecessores que, como no Brasil com Lulla da Silva, dá a impressão ao povo que elegeu “um dos nossos”. É um bom marketing, mas não basta. É preciso muito trabalho e determinação para mudar as coisas de fato. E habilidade. A Bolívia, mesmo tendo grandes recursos naturais e gás, é um dos países mais pobres do continente. Porém é preciso verificar que a estatização dos minérios e derivados, afora caminhar na contra-mão da história, não será bem recebida pelas elites nacionais afetadas e pelas empresas estrangeiras que já investiram no país. A negociação, pois não será fácil. Por outro não o ajuda o discurso antiamericano que usou como candidato paraaglutinar os votos dos bolivianos. É um peso negativo não desprezível e uma cegueira (não se avalia ainda se proposital) sobre as relações internacionais. Lulla, que chegou ao Planalto com discurso semelhante, logo percebeu que o discurso era bom para os palanques, mas inviável. Daí à guinada em política econômica e a distância entre suas promessas e a realidade. A diferença é que o presidente boliviano, se faltar as suas promessas, será afastado para bem longe do poder por pura pressão popular. Lulla da Silva não. Pode fazer discurso de soberania, pagar juros mais altos ao FMI para arrotar independência e ceder as pressões americanas para não vender aviões da Embraer à Venezuela sem que o mundo caia sobre ele. Ou seja, lá não vai dar para fazer demagogia.

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