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quinta-feira, janeiro 05, 2006

A LAMA PINGANDO

Por mais que o presidente Lulla da Silva deseje se esquivar da responsabilidade, que é sua, elle que foi eleito para melhorar o país, culpando o PT, a dura realidade, um diagnóstico preciso é o de que não conseguiu fazer o que prometeu, ou seja, construir um projeto de nação menos desigual, socialmente mais inclusivo, necessariamente contemporâneo e aberto às oportunidades do presente e as possibilidades de futuro.
A crise, no fundo, retrata na sua totalidade, suas dimensões institucionais, é uma crise do PT, do Governo, do Parlamento, do sistema político-partidário e que coloca em questão, portanto a estabilidade institucional e a conseqüente capacidade de governabilidade do país. O que se reflete a crise atual, fruto de eventos ocasionais, na superfície, representa sobretudo, por baixo, a exposição das impurezas de um processo político de longa duração, alimentado e mantido pelas elites oligárquicas brasileiras, com raízes no coronelismo, que sempre usou o poder em proveito próprio, a manipulação da Justiça, a privatização do público, a centralização do poder, a impunidade e a indiferença aos problemas sociais como paradigma do exercício do poder.
O mais chocante, de fato, é que o partido que se dizia mais radical contra tal espécie de paradigma do exercício do Poder, se revelou, ao exercê-lo, como o mais propenso ao exercício de tal estilo a ponto de não apenas continuar preferindo, sempre, a exclusão social à melhoria da população, a cuidar da educação do povo em detrimento da dominação, de um projeto de poder que se esgotava em si mesmo por não ter, como se provou, objetivos e metas. Que o governo Fernando Henrique Cardoso tivesse sido cruel com o funcionalismo público se admitia na medida em que tinha um projeto: congelou os salários do contingente existente para substituir, gradativamente, por quadros melhores e bem pagos, ou seja, uma crueldade, supostamente “racional” a favor do país futuro. O governo Lulla da Silva é pior: faz a maldade sem cálculo, sem visão de futuro, faz apenas para se manter e manter o que aí está. Ninguém, porém explica como vai fazer um país melhor com trabalhadores sem salários, como vai fazer uma educação melhor com professores que não podem se manter quanto mais comprar livros. A crise, portanto é a própria crise da cultura política dominante no país, enraizada nas espertezas, na falta de valores, na fratura exposta do levar vantagem de qualquer jeito no qual se substituiu o saber pelo ter: seja o político para dar um “jeitinho” ou um monopólio, seja o de utilizar os interesses eleitoreiros para pilhar o erário público, a desfaçatez de colarinho branco alimentada pela cegueira pública e pela injustiça vigente que funciona sempre a favor dos espertos. Os Waldomiros, os Buratis, os Marcos Valérios, os Delúbios e PCs Farias sempre existiram, mas, jamais, no centro do poder. Quando isto acontece à podridão chegou ao grau máximo. Estamos enredados numa imensa tragédia moral, numa completa falta de referências. Os fios da rede de corrupção são tão grandes que só há compromisso com o próprio bolso, com o próprio poder. Em outros tempos muitos governantes teriam vergonha e buscariam o exílio e o ostracismo como única forma de expiar seus pecados. Aqui os culpados falam em reeleição. E a lama vai escorrendo pelos fios e contaminando os mecanismos de poder

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