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terça-feira, novembro 15, 2005

ELUCUBRAÇÕES SOBRE A ÉTICA

Afirma Émile Durhkhiem, na sua obra "Ética e Sociologia da Moral", que "o objeto da ética é, acima de tudo, estabelecer os princípios gerais dos quais os fatos morais são apenas aplicações particulares", portanto a Ética se constitui num sistema de princípios que tem por finalidade separar o certo do errado, o bem do mal, o justo do injusto por meio de explicações racionais diante dos atos humanos. Ou seja, na prática, a ética se reveste da racionalização do agir, embora com ele não se confunda, mas o guie. É preciso observar que a Ética tem seu surgimento, na Grécia, como um olhar sobre o sentido do poder político e os conflitos pelo seu exercício e sua organização. De forma que a especulação ética se erige como teorização da ação pública, que, em muitos casos possibilitou a paz graças à política. E desde então tem sido um instrumento, não só de auto-conhecimento, como também de reflexão sobre a natureza e o agir público pautado pela justiça. A Ética é, no fundo, uma racionalização do político como necessidade social e construção de uma sociedade centrada pela defesa de determinados valores consensuais.
Não pode, por conseguinte haver política sem ética, sem a explicação ética dos atos morais que estão em relação direta com sua aceitação pelos valores definidos historicamente como socialmente aceitáveis. Daí que o pensar ético não pode ser desvinculado da realidade histórica. Toda sociedade, de acordo com os padrões vigentes de sua época, conceitua o que é moralmente aceitável ou não. Porém os limites da ética são imprecisos e, socialmente, às vezes, maleáveis a ponto de existirem práticas pouco éticas que não são legalmente condenáveis, mas conhecidas e comuns. Entretanto, por mais que existam tais práticas, não se pode perder de vista que uma questão consiste na sua prática enquanto não publicamente exposta porque nem sempre o que é socialmente consentido é legalmente permitido. Uma coisa é um dirigente praticar Caixa 2 enquanto não se sabe do fato; outra é ser pilhado com o Caixa 2 ou confessar, publicamente, que usou Caixa 2. Só a confissão ou o espanto com que as recriminações sobre o fato são recebidas, de vez que “todos fazem” já demonstra a confusão ética, quando não a completa falta de ética.
Os episódios recentes da política brasileira, e as alegações de inocência quando as provas são contundentes, demonstram que, de fato, ou o agir é pouco ético ou, como uma realização do pensamento, demonstra a falta de valores morais ou mesmo de princípios que norteiem o agir. Não se trata de que faltem ao indivíduo, nem ao partido, nem a sociedade padrões éticos ou legais, mas sim de que, para as pessoas que assim agiram, seus fins justificam os meios ou não possuem o menor respeito pelos valores que organizam nossa vida social. De fato, como uma moral é um produto do meio, uma produção dos homens dentro de uma temporalidade objetiva, levando em conta as condições da existência, ao que parece, os participantes do poder conseguiram confundir certos valores ilusórios com os reais e invertendo as regras morais vigentes criaram uma moral especial que só eles mesmos entendem. É só o que é possível pensar para não ser injusto e não chegar a uma conclusão pior ainda que é a de que de tanto mentir já não conseguem separar o certo do errado, mas, até aí também, perderam completamente qualquer sentido ético o que fizeram. De qualquer forma o que acontece, hoje, no país desafia qualquer dos parametricos éticos de nossos tempos. É uma vergonha mesmo!

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