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terça-feira, novembro 01, 2005

A GESTÃO NÃO ADAPTADA

O enorme crescimento da economia brasileira, cuja partida se deu em meados do século passado, teve como uma das suas características mais marcantes a importação de ciência e tecnologia externa. Efetivamente a maior parte dos produtos complexos, como, por exemplo, automóveis ou eletrodomésticos, não foi criado por uma gradativa melhoria de nossos quadros científicos e sim pela importação de modelos criados em outros países e por nós utilizados para diminuir o “gap” tecnológico. É o que se chamou de “queimar etapas” para o desenvolvimento. Um efeito correlato de tal estratégia é que nos acostumamos a copiar os modelos externos e tê-los como padrão de qualidade o que, durante muito tempo, não somente desmereceu o produto nacional como gerou uma cultura de cópias. Semelhante comportamento se estendeu não apenas na questão técnica como também nas nossas instituições acadêmicas e na própria gestão governamental, nas entidades e empresas. Até na legislação isto é visível, pois, por exemplo, a nossa legislação ambiental é tida como “muito avançada”, isto é, os seus parâmetros estão deslocados da realidade brasileira. Nós legislamos como se estivéssemos no primeiro mundo e não numa sociedade marcada pela necessidade de gerar suas próprias instituições, cultura, padrões, modelos. Um dos males mais sensíveis dessas práticas decorre de que nosso ambiente de negócios tem suas próprias particularidades e, na maioria das vezes, modelos importados acabam gerando resultados indesejados e não alcançando a eficiência que obtém no berço de sua produção. Não é segredo para ninguém que a adequação e a eficiência de um modelo sempre dependerão de serem coerentes com os valores culturais de onde são aplicados. Quando são acritícamente copiados o que se observa é uma imensa distância entre a teoria e a prática que, se não fossem as circunstancias e os custos, poderiam ser encarados como exemplos de humorismo empresarial. Assim, como muitas pessoas estão acostumadas a verificar, o gerente centralizador utiliza livros da moda para incentivar a participação ou, como é muito comum, todos concordam com a nova forma de executar um plano que, obviamente, nunca saíra do papel. São contradições que, ao mesmo tempo em que revelam a flexibilidade, o “jeitinho brasileiro”, demonstram também que costumamos não criar tecnologias adaptadas à nossa realidade. A verdade é que, como em diversos outros campos, a importação pura e simples de tecnologias de gestão, ou até modismos de gestão, induz a bifurcação, nas empresas brasileiras, entre a teoria e a prática. Em geral, ao contrário da cultura de outros países, o brasileiro não discute com o líder ou com a autoridade, mas utiliza o que é factível no seu desempenho e afasta o que não tem utilidade para a ação. Talvez isto explique a razão pela qual há leis que pegam e as que não pegam.

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