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sábado, março 25, 2006

NA CORDA BAMBA

Eis que depois de 11 dias de reclusão voluntária e de profundo silêncio, em casa ou no Palácio do Planalto, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, finalmente, e em tom magoado, procurou defender-se das críticas que lhe são feitas por envolvimentos com seus velhos amigos da "República de Ribeirão". E começou como se fosse fazer uma confissão ou uma autocrítica afirmando que "Todos nós temos de pagar pelos erros que cometemos", para a silenciosa platéia de quase meio milheiro de empresários na Câmara Americana de Comércio, em São Paulo, e emendou "Mas não se pode transformar o debate político numa crise sem fim, numa crítica desenfreada de todas as coisas, numa agressão a vidas pessoais", continuou. E, falando devagar, avisou: "Quando chega nisso eu me afasto, fico um tempo distante."E comparou sua vida atual às agruras do inferno de Dante dizendo que economia que começa a voar em céu de brigadeiro e ele estava mais para o lado do inferno.
Muito bonito literariamente, porém não o bastante sob qualquer ponto de vista para quem ocupa uma posição tão elevada quanto a dele e que precisaria rebater, ou dirimir, de vez as dúvidas que pairam sobre seu comportamento. Não. Limitou-se, num vôo rasante de 15 minutos a se esconder nos bons índices da macroeconomia - em vender a idéia de que seu trabalho como ministro apaga os problemas levantados contra seu caráter como se a vida pública pudesse ser separada dos assuntos de sua vida particular como se fosse santo numa e pecador noutra e os papéis fossem separados. Utilizando estes argumentos chegou ao ápice de sua defesa ao afirmar: "Não posso, como ministro, debater todo tipo de acusações baixas e ofensas que são apresentadas no jogo politiqueiro. Aí sim, eu comprometeria a condução da economia". E, mesmo ressalvando que não se tratava da imprensa em geral e sim de alguns jornalistas que entram no jogo políticos e não vêem limites entre o que é justo investigar e a perseguição e a falta de respeito das pessoas o ministro chegou ao cume de suas possibilidades ao culpar a imprensa-o que não é nenhuma novidade. Infelizmente os fatos falam por si só. Não se trata de baixaria, e baixaria mesmo foi o que fizeram quebrando o sigilo do caseiro-e sim de que como a mais alta autoridade da economia brasileira pairam sobre sua atuação, seja como ex-prefeito de Ribeirão Preto, seja como ministro, indícios de que, por meio de assessores, utilizou recursos públicos para uso partidário e não se sabe se pessoal. O episódio do caseiro em si não tem significado fora do contexto. E o contexto é que, para escapar de ser responsabilizado, o ministro negou ter estado algum dia na chamada República de Ribeirão Preto, uma mansão alugada de Brasília onde ex-assessores de Palocci davam festinhas e faziam distribuição de recursos para políticos, bem como continua negando. A questão básica é que o caseiro Francenildo corrobora o depoimento do motorista de Palocci que diz que ele esteve lá, ou seja, o ministro mentiu. E ao mentir colocou abaixo toda a sua defesa. Agora foge do assunto e se refugia no silêncio e nas evasivas, porém perdeu a autoridade moral que o cargo requer.

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