Total de visualizações de página

segunda-feira, março 27, 2006

REFLEXOS DA CRISE

Enquanto parlamentares festejam a absolvição de mais um envolvido no escândalo do “Mensalão” e dirigentes governamentais, na ânsia de tornar uma testemunha em criminoso, não hesitam em passar por cima dos direitos mais elementares o reflexo de tais comportamentos se transformavam, em Porto Velho, num tiroteio, por ironia, numa das mais movimentadas artérias da cidade, a Avenida Jorge Teixeira, em frente à Escola do Ministério Público. Não se podem dissociar, de forma alguma, esses episódios na medida em que estão profundamente entrelaçados, pois o aumento da violência, da criminalidade e do banditismo é diretamente proporcional à falta de autoridade moral e pública.
É verdade que o Brasil é um país desigual. Não é menos verdade que acumulou, tempos afora, uma dívida social imensa, no entanto a violência crescente se alimenta fundamentalmente não tanto da miséria, mas muito mais da ignorância, da falta de escolaridade, do fato de que dos 60 milhões de brasileiros com menos de 17 anos de idade nada menos que 15,8 milhões não freqüentam escolas ou creches. São, portanto pessoas que, no longo prazo, tendem a ficar sem a escolaridade requerida pelos tempos modernos e, pior do que isto, como, no Brasil, metade da população (50,3%) está sendo atendida por programas de transferência de rendas o próprio governo está gerando uma imensa estufa de insatisfação porque como tão bem criticou o professor de Filosofia e Ética da Universidade Federal de São Paulo, Roberto Romano, os programas deste tipo somente surtem efeitos nas urnas e não na diminuição das disparidades, de vez que, segundo ele, voltamos “Ao clientelismo do Estado, só que invés de camisetas são distribuídos cartões” num processo que garante eleitorado, porém não transforma as pessoas em responsáveis por si mesmo nem ocupa o seu tempo, ou seja, como a mente ociosa-já diziam os mais velhos-é a oficina do diabo, as pessoas livres sem ter o que fazer tendem a ser presa fácil dos vícios e dos crimes e, neste caso, a renda baixa ajuda no recrutamento.
A verdade é que isto não é política social e sim assistencialismo. E o assistencialismo, aliado ao mau exemplo que as elites políticas estão dando, agindo como se o poder e o dinheiro dessem condição de fazer qualquer coisa, mesmo sem instrução, é o completo desmoronamento da ordem, dos valores sociais, da criação de cidadania e de uma democracia sólida. Acrescente-se que também, por mais esforços que sejam direcionados à consolidação do aparato policial, que já não é essas coisas, uma boa política de segurança não se faz apenas com a repressão. É imprescindível o aspecto educacional, o exemplo que venha de cima, o respeito às regras, mesmo as mais comezinhas, para que haja confiança social em que se comportar bem faz sentido e tem retorno. È tudo que não se vê em relação ao comportamento da classe política com os reflexos sociais dos assaltos, dos tiros, da completa insegurança de nossas cidades.

Nenhum comentário: